quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mercado do Livro no Brasil

Fui convidado a participar como palestrante de uma das mesas do Livre-se: I Simpósio do Livro da UFRJ realizado entre os dias 27 e 29/10/2009 na Biblioteca Nacional. Na bonita definição do evento: "Alguns livros são como paixões: transformam o amante e a mente. Já os amores são complacentes: não nos aborrecem com exigências sisudas de fidelidade. O amor do livro é livre. Aspecto fundamental de qualquer relação amorosa é o diálogo."

A seguir, a palestra que fiz no evento sobre o Mercado do Livro no Brasil, tendo por base dados relativos ao ano de 2008.

O livro é uma das cadeias produtivas da economia. A cadeia produtiva do livro é constituída pelos seguintes setores:
- Autoral
- Editorial
- Gráfico
- Produtor de papel
- Produtor de máquinas gráficas
- Distribuidor
- Atacadista
- Livreiro
- Biblotecário

A interface entre dois destes setores forma um mercado. O mercado do livro é composto, basicamente, por dois conjuntos de relações:
- editor / livreiro, permeado ou não por distribuidores e atacadistas
- varejista / consumidor final; consumidor final pode ser pessoa física ou biblioteca

Mas, qual é o tamanho deste mercado do livro no Brasil? Em faturamento, no ano de 2008, apurou-se o valor de 3,30 bilhões de reais (3.305.957.488,25). Na divisão entre vendas para mercado e vendas para governo, temos a seguinte:
- mercado: 2,43 bilhões de reais (2.436.606.207,66)
- governo: 869,35 milhões de reais (869.351.280,59)

Para maior visibilidade, o faturamento para mercado representa 73,70% e para governo 26,30%. Mesmo assim, para se ter uma boa noção do que representa este mercado do livro em termos econômicos, há que se fazer mais uma comparação; neste caso, a melhor comparação é com o PIB do país. Mas o que é PIB?

"Principal indicador da atividade econômica, o PIB - Produto Interno Bruto - exprime o valor da produção realizada dentro das fronteiras geográficas de um país, num determinado período, independentemente da nacionalidade das unidades produtoras. Em outras palavras, o PIB sintetiza o resultado final da atividade produtiva, expressando monetariamente a produção, sem duplicações, de todos os produtores residentes nos limites da nação avaliada. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de mercado. A produção da economia informal não é computada no cálculo do PIB nacional."

A fórmula para se chegar ao valor do Produto Interno Bruto é:
PIB = C + I + G + NX onde
C = Consumo
I = Investimento
G = Despesa do Governo
NX = Exportações Líquidas
..: "Consumo" refere-se a todos os bens e serviços comprados pela população. Divide-se em três subcategorias: bens não-duráveis, bens duráveis e serviços;
..: "Investimento" consiste nos bens adquiridos para uso futuro. Essa categoria divide-se em duas subcategorias: investimento fixo das empresas (formação bruta de capital fixo) e variação de estoques;
..: "Despesa do Governo" inclui os bens ou serviços adquiridos pelos governos Federal, Estadual ou Municipal;
..: "Exportações Líquidas" trata-se da diferença entre exportações e importações.
Definições retiradas do portal IPIB.

Agora que já sabemos o que é PIB falta saber quanto foi. Em 2008 o PIB do Brasil foi de 2,9 trilhões de reais (2.900.000.000.000,00). Portanto, o mercado do livro no Brasil, que no mesmo ano teve o faturamento de 3,30 bilhões de reais, representa 0,11% do PIB. Como se vê, há muito para crescer.

Outra forma de avaliar o mercado é voltarmos o olhar para o número de exemplares. Em 2008 foram vendidos 333.264.519 exs; na divisão básica, 211.542.458 exs vendidos para mercado e 121.722.061 exs vendidos para governo. Em termos percentuais, 63,47% para mercado e 36,53% para governo.

É claro que são números imensos; são milhões, afinal. Entretanto, precisam de um parâmetro de comparação. Creio que o melhor é o que relaciona esses números com a população. Segundo dados do IBGE, o Brasil em 2008 tinha 189,6 milhões de habitantes (189.600.000). Considerando-se os exs vendidos para mercado, os 211.542.458 exs, e dividindo-se pela população do Brasil, obtem-se o número, a falsa média, de 1,1 (um vírgula um, isso mesmo) livros por habitante. É muito, muito pouco, não?

Segmentos do mercado do livro

Para melhor conhecer o mercado do livro as pesquisas já realizadas utilizam a seguinte divisão:
- Didáticos
- Obras gerais
- Religiosos
- CTP - científicos, técnicos e profissionais

Os números percentuais em faturamento e em exemplares são:
- Didáticos 41,09% do faturamento e 34,76% dos exs
- Obras gerais 26,36% do faturamento e 30,04% dos exs
- Religiosos 13,18% do faturamento e 23,76% dos exs
- CTP cient; técn; prof 19,37% do faturamento e 11,44% dos exs

Com relação a títulos novos no mercado, em 2008 foram lançados em 1ª edição 19.174 títulos. O ano, em termos nacionais, tem 249 dias úteis [365 - 104 (sáb + dom) - 12 (feriados nac.)]. Portanto, teve-se uma média de 77 novos títulos por dia no mercado.

Quanto aos canais de comercialização do livro, os principais são:
45,64% livrarias (inclui as ponto.com)
25,32% distribuidores
13,66% porta a porta
Estes três representam 84,62%

Com os números apresentados, o mercado do livro está em crescimento?
Em número de exemplares, sim (mercado):
+ 5,63% de 2007 para 2008 ou
+ 37,74% de 2004 para 2008

Em faturamento, não (mercado):
em 2004 o preço médio do livro foi de R$ 12,68
em 2008 o preço médio do livro foi de:
R$ 9,29 (deflacionado em relação a 2004) / queda de 26,73%
R$ 11,52 (corrente, sem deflação) / queda de 9,15%

O valor do preço médio é o valor líquido que entrou para o caixa das editoras. Pelas características da comercialização do mercado do livro, existe uma escala de descontos de 50% para os distribuidores e redes (estas são distribuidoras para as suas próprias lojas), e depois dos distribuidores para as livrarias com variação entre 30% e 40%. Sendo assim, o preço médio na ponta, para o consumidor final, foi o dobro do apresentado acima.

Questões atuais do mercado do livro

01 - Profissionalização
Uma das maiores, sem dúvida, é a busca da profissionalização que será determinante tanto para o crescimento quanto para a própria permanência no mercado das empresas que o formam, sejam elas livrarias sejam editoras, tendo em vista tanto a concorrência interna quanto externa. As instituições do livro podem, e devem ser, os canais para a busca da profissionalização do mercado. As principais, de abrangência nacional e por antiguidade, são:

22.11.1941 SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros
20.09.1946 CBL - Câmara Brasileira do Livro
05.05.1978 ANL - Associação Nacional de Livrarias
02.09.1987 ABEU - Associação Brasileira das Editoras Universitárias
27.10.1987 ABDL - Associação Brasileira de Difusão do Livro (porta a porta)
15.04.1991 ABRELIVROS - Associação Brasileira de Editores de Livros (didáticos)
05.06.1992 ABDR - Associação Brasileira de Direitos Reprográficos
01.08.2002 LIBRE - Liga Brasileira de Editoras
??.10.2006 Instituto Pró-Livro

Apesar dos esforços da CBL, SNEL e, mais recentemente, da ANL, ainda faltam dados estatísticos consolidados sobre o próprio mercado. Em muitos casos por falta de informações que as próprias empresas do mercado ainda têm receio de fornecer para alimentar as pesquisas. Não se sabe, com precisão, quantas editoras e quantas livrarias existem no país.

Desde 1991 CBL e SNEL patrocinam a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro que, a partir de 2007, passou a ser feita pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP. Os dados apresentados até aqui vêm dessas pesquisas.

02 - Concentração
Na economia mundial, uma das características atuais é a concentração. No Brasil, no mercado do livro, começou pelas editoras. Segue levantamento:
a) Record comprou em
1997 - Bertrand Brasil
1997 - Civilização Brasileira
1997 - Difel
2001 - José Olympio
2004 - Best-Seller
2005 - joint-venture com Harlequin Books (do Canadá)

b) Saraiva comprou em
1998 - Atual Editora
2000 - Renascer
2001 - Solução
2003 - Formato Editorial
2007 - Pigmento Editorial
2008 - ARX
2008 - ARX Jovem
2008 - Futura
2008 - Caramelo

c) Ediouro comprou em
2002 - Agir
2004 - Relume-Dumará
2005 - Nova Fronteira (50%)
2006 - joint-venture com Thomas Nelson (americana)
2007 - Nova Fronteira (os outros 50%)
2007 - Nova Aguilar
2008 - Desiderata

d) Sextante comprou em
2007 - Intrínseca (50%)

03 - Internacionalização
a) Pearson
1996 - entrou no Brasil
2000 - comprou a Makron Books

b) Grupo Vivendi, em parceria com Editora Abril, comprou em
1999 - Ática
1999 - Scipione
2004 - Abril compra a parte da Vivendi

c) Grupo Prisa-Santillana comprou em
2001 - Moderna
2005 - Objetiva (75%)

d) Larousse
2003 - entrou no Brasil
2007 - comprou editora Escala

e) Planeta
2003 - entrou no Brasil
2006 - comprou Academia da Inteligência

f) Elsevier/Campus comprou em
2002 - Negócio Editora
2002 - Alegro
2005 - Impetus

g) Edições SM
2004 entrou no Brasil

h) Penguin Books
10.09.2009 é anunciada parceria com a Companhia das Letras

i) Grupo Leya
11.09.2009 é lançado oficialmente no Brasil

"O Brasil é um mercado emergente com grande potencial de crescimento, sobretudo na direção de livros com preços populares e com objetivos educacionais."

A opinião acima deixa bem claro os desafios que já podem ser vislumbrados, afinal, é a opinião de John Makison, presidente mundial de uma empresa que tem negócios em 60 países, a Penguin Books. (O Globo, 10.09.2009).

04 - Livrarias
A ANL - Associação Nacional de Livrarias fez um levantamento através do envio de questionários para saber quantas livrarias existem no Brasil. A própria ANL adverte que não é uma pesquisa e, sim, um levantamento de dados.

ANL considera "livraria" a empresa que oferece um bom acervo de livros, independente de vender outros produtos. Assim, chegou ao número de 2.676 livrarias no Brasil. Como o país tem 5.564 municípios além do DF, chega-se à falsa média de 0,48 livraria/município.

Essas 2.676 livrarias estão distribuídas pelas regiões geográficas e DF, da seguinte forma:
1.414 ou 53% na região Sudeste (são 4 estados)
524 ou 20% na região Nordeste (são 9 estados)
417 ou 15% na região Sul (são 3 estados)
132 ou 5% na região Norte (são 7 estados)
118 ou 4% na região Centro-Oeste (são 3 estados)
71 ou 3% no DF Distrito Federal (é 1 unidade)

A concentração também está presente, e muito, na distribuição das livrarias pelo país, como mostram os dados acima. Dentro de uma região geográfica também existe a concentração. Abrindo a maior região em número de livrarias, a Sudeste com 53%, temos os seguintes dados (arredondados) por estado:
SP tem 676 livrarias; representa 48% da região e 25% do Brasil (é 1/4)
MG tem 360 livrarias; representa 25% da região e 13% do Brasil
RJ tem 335 livrarias; representa 24% da região e 13% do Brasil
ES tem 43 livrarias; representa 3% da região e 2% do Brasil

No meu modo de ver o mercado livreiro iniciou um processo de concentração acelerado a partir de 2008, quando a Saraiva comprou a Siciliano e transformou-se, assim, na principal rede de livrarias do país em número de lojas. Este movimento da Saraiva acirrou a concorrência e estimulou outras redes a abrir mais lojas em menor espaço de tempo. Por exemplo, a Livraria Cultura abriu duas lojas em 2008, uma em 2009 e tem três anunciadas para 2010 (Fortaleza, Brasília e Salvador). No Rio, a Livraria da Travessa abriu uma loja em dezembro de 2008 e outra em setembro de 2009.

Esta concentração do setor livreiro com a expansão das redes também é facilitada pela migração, maior a cada ano, do comércio varejista para os shoppings. Os shoppings cada vez mais oferecem serviços além das tradicionais lojas, sem falar das questões ligadas à segurança, estacionamento etc. Como os custos de uma loja em shopping são elevados, é cada vez mais difícil encontrar pequenas livrarias nesses espaços, que são ocupados, preferencialmente, por lojas de redes que, em muitos casos, são lojas âncora. Alguns números para comprovar esta tendência:

Em 2000 o Brasil tinha 280 shoppings; já eram 377 em 2008, ou seja, crescimento de 34,64%. Qundo se olha para o número de lojas nesses mesmos anos, o aumento foi de 90,96%, passando de 34.300 para 65.500 lojas. Para 2009 estão previstos mais 23 shoppings e para 2010 mais 19 shoppings. Portanto, sem retorno desta tendência da concentração do comércio nos shoppings.

As principais redes de livrarias em número de lojas são:
100 lojas - Saraiva (base SP)
38 lojas - Laselva (base SP) considerei apenas uma por aeroporto
26 lojas - Leitura (base MG)
17 lojas - Livrarias Curitiba (base PR)
9 lojas - Cultura (base SP) + 3 em 2010
9 lojas - Fnac (base SP)
7 lojas - Travessa (base RJ)

Uma observação: a Nobel tem uma quantidade maior de lojas, em torno de 180 pontos de venda, mas são franquias, isto é, CNPJ diferentes e a responsabilidade pelos pagamentos é de cada franquia e não da franqueadora. Por isto, não a considero como uma rede como Saraiva, Cultura, Fnac etc.

05 - E-commerce
Na metade de 2009 já somos 15,2 milhões de e-consumidores e o e-commerce aumenta a cada ano no Brasil. O livro é a categoria mais vendida em número de pedidos com 17% em 2008. Este número demonstra que o produto livro, principalmente os títulos da cauda longa, que cada vez mais, têm menos espaço nas livrarias físicas terão, na web, o seu principal canal de comercialização.

Começa a acontecer um fenômeno interessante na web, que vai na contramão da concentração que existe no comércio via lojas físicas. Na web é possível a descentralização; é possível a concorrência entre gigantes, médios e pequenos. E assim, a cada dia, mais lojas são abertas na web. Alguns números para comprovação:
. os Top 50 vêm perdendo participação no mercado; comparando 1º semestre de 2008 com 1º semestre de 2009, temos:
. a Top 1, a B2W [Submarino+Americanas+Blockbuster+Shoptime] perdeu 5,50%;
. os Top 10 perderam 2,30%;
. os Top 50 perderam 1,60%;
. a partir da posição 51 houve ganho de 1,60%

Livro digital; novos suportes de comercialização; direitos autorias e pirataria ficam para outros posts.

Fontes de pesquisa:
Sites citados, tanto de instituições quanto de editoras e livrarias
Sá Earp, Fabio e Kornis, George. A Economia da Cadeia Produtiva do Livro, Rio de Janeiro, Bndes, 2005
Webshoppers
IBGE
ABRASCE

domingo, 30 de agosto de 2009

Romance Policial 1: Enigma

O ano de 2009 agrega algumas datas comemorativas relacionadas ao romance policial, ao romance noir. São os 200 anos do nascimento de Edgar Allan Poe (19.01.1809) e os 160 anos de sua morte (07.10.1849). São os 150 anos do nascimento de Arthur Conan Doyle (22.05.1859) e os 50 anos da morte de Raymond Chandler (26.03.1959). Também são os 20 anos da morte de Georges Simenon (04.09.1989). E, estes, são somente alguns dos autores ligados ao romance policial/noir que têm suas datas de nascimento e/ou morte num ano terminado no algarismo 9. Mera coincidência ou algum mistério a ser desvendado? Neste caso, qual o detetive mais indicado para resolvê-lo?


Edgar Allan Poe é considerado o criador do romance policial. Seu conto "Os Crimes da Rua Morgue", publicado em abril de 1841 na Graham´s Magazine, é a primeira narrativa do gênero que, até hoje, atrai uma legião de leitores. É neste conto que aparece a figura do detetive que será a base para outros detetives do gênero policial enigma, como os que virão a ser criados por Conan Doyle, Agatha Christie e George Simenon dentre outros.

As aventuras criadas por Allan Poe são ambientadas na Paris do séc XIX e seu detetive, Monsieur C. Auguste Dupin, tem as seguintes características, no resumo de Sandra Reimão: "é uma máquina de pensar, que, a partir de vestígios, pistas, indícios, consegue, através de uma dedução lógica rigorosa, reconstruir uma história, um fato passado, e assim descobrir o(s) culpado(s)."

Outras características criadas por Allan Poe para o gênero policial são:
. detetive desvenda os casos, mas não os escreve;
. mora com um amigo que é o responsável pelo registro dos casos, isto é, é o narrador;
. existe um chefe de polícia que procura o detetive para ajudar a desvendar os casos inexplicáveis;
. na revelação final o detetive reconstrói a história para esclarecer como chegou à solução do caso.

Mas, Edgar Allan Poe não levou adiante seu detetive que aparece somente em duas outras histórias: "O Mistério de Marie Rogêt" em 1842 e "A Carta Roubada" em 1845. Entretanto, a base do romance policial do tipo enigma estava criada. Para o sucesso do gênero, muito contribuiu a opção pelo narrador-memorialista. Através dele o leitor é guiado e vai seguindo os passos, - mas sempre atrás -, do detetive. Portanto, fica o desafio de tentar desvendar o mistério antes do próprio detetive. Porém, nem todos os detalhes do processo de análise dos fatos, dos indícios, das pistas são revelados pelo narrador-memorialista, que também não os conhece pois, o detetive, em determinada altura da história não "fala" com ele e/ou some, desaparece por algum tempo. Assim, a resolução do mistério é encaminhada para um gran finale, onde o detetive, através de seu parceiro narrador, fará o relato de todo seu processo de investigação e análise, culminando na revelação final.

Esta, portanto, foi a primeira dupla de detetive e narrador-memorialista: C. Auguste Dupin e seu anônimo amigo. Duas outras duplas completam o que é considerado o "trio de ouro" do romance policial de tipo enigma: Sherlock Holmes e Dr. Watson, criados por Arthur Conan Doyle, e Hercule Poirot e Capitão Hastings, criados por Agatha Christie.


O escocês Arthur Conan Doyle escreve em sua autobiografia "Memórias e Aventuras", publicada em 1924 que "... o magistral detetive de Poe, M. Dupin, havia sido um de meus heróis desde a infância." Portanto, a base para o detetive Sherlock Holmes, criado por Conan Doyle, remonta a Edgar Allan Poe. Conan Doyle tem o mérito de desenvolver seu detetive, de dar-lhe determinadas características e personalidade. Holmes é misógino, morfinômano, cocainômano, sofre de melancolia, joga xadrez, adora tocar violino e fumar cachimbo, além de ser um expert na arte do disfarce, da transformação/caracterização em outra pessoa. Atrevo-me a dizer que o gênero romance policial teve seu desenvolvimento, sua continuação a partir de Conan Doyle, sendo Poe o criador.

A personagem Sherlock Holmes aparece pela primeira vez no romance "Um Estudo em Vermelho" publicado em 1887. Holmes aparecerá em mais três romances: "O Signo dos Quatro" em 1890, "O Cão dos Baskerville" em 1902 e "O Vale do Medo" em 1915. Além disso Holmes resolverá casos em outros 56 contos publicados entre 1891 e 1927.





Em 1920 a dupla criada por Agatha Christie, Poirot e Hastings, aparece pela primeira vez em "O Misterioso Caso de Styles". Não sei se notaram, mas são exatos 79 anos depois da criação de Dupin; mas uma vez aparece o algarismo 9.


Outro importante detetive foi criado por Georges Simenon: o Comissário Maigret. Sua primeira aparição foi escrita sob o pseudônimo de Christian Brulls, e acontece em setembro (mês 9) de 1929. Alguém ainda acha que é mero acaso todas estas datas terminadas com o algarismo 9?



Continua...



Fontes de pesquisa:

Christie, Agatha. O Misterioso Caso de Styles. BestBolso, 2009.

Doyle, Arthur Conan. Sherlock Holmes, edição definitiva, vol 1. Jorge Zahar, 2006.

Poe, Edgar Allan. Histórias de Crime e Mistério. Ática, 2001.

____________. Histórias Extraordinárias. Companhia de Bolso, 2008.

Reimão, Sandra. Literatura Policial Brasileira. Jorge Zahar, 2005.

http://www.livrariadocrime.com.br/?secao=entrevistas&cd_entrevista=13

http://www.poebrasil.com.br/

http://acbr.luky.com.br/index.php

http://www.lpm-editores.com.br/

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Crise? Na Web, Não

A e-bit divulgou a 20a edição da pesquisa Webshoppers. Pelos dados apresentados, a crise, no primeiro semestre de 2009, passou longe da web, do e-commerce. A pesquisa é feita em mais de 1.800 lojas virtuais e os dados são coletados junto aos compradores online, imediatamente após a compra na web.

O faturamento nestes seis meses inicais de 2009 foi de R$4,8 bilhões, o que equivale a um crescimento de 27% em relação ao mesmo período de 2008, que teve o faturamento de R$3,8 bilhões. Isso comprova que, a cada dia, aumenta a quantidade de pessoas que também compram pela web. No espaço de um ano 3,7 milhões de pessoas, de novos e-consumidores, realizaram pelo menos uma compra na web. Na metade de 2008 eram 11,5 milhões de e-consumidores e na metade de 2009 o número está em 15,2 milhões.

Segundo a pesquisa 86% dos consumidores brasileiros estão satisfeitos com o comércio virtual. "Esse alto índice de confiança é fruto da credibilidade oferecida pelo e-commerce, que apresenta diversas condições de pagamento para seu consumidor, que pode parcelar sua compra em até 12x sem juros, além da isenção do frete (...). Outra facilidade já conhecida no setor é a possibilidade de não ter que sair de casa e enfrentar os problemas característicos das grandes cidades."

Com relação aos produtos mais vendidos a categoria livros e assinaturas de revistas e jornais continua em primeiro lugar; depois vêm saúde, beleza e medicamentos em segundo lugar; informática está em terceiro.

Mas, o dado mais importante da pesquisa, no meu modo de lê-la, diz respeito a uma tendência, já comentada aqui no blog em 29.03.2009, que é a descentralização do e-commerce. A cada diz mais e mais lojas são criadas na web, desde grandes varejistas como Wal-Mart e Ponto Frio, até pequenas empresas que vislumbraram a oportunidade que a web oferece. O que antes era uma barreira, devido ao custo, para a entrada de pequenas empresas, isto é, a necessidade de contratar profissionais e/ou empresas para desenvolver uma loja virtual, além da permanente manutenção e atualização, essa barreira não existe mais. Hoje, por apenas R$ 49,90 por mês, várias empresas já disponibilizam uma loja básica montada. É só pesquisar na própria web. Uma outra dificuldade dizia respeito ao recebimento dos pagamentos, que envolviam segurança com os dados dos cartões dos e-consumidores e o medo por parte dos lojistas desses mesmos cartões serem falsos ou roubados. Também não existe mais. Várias empresas já oferecem a terceirização de todo processo de pagamento/recebimento e com segurança. Mais uma vez, é só pesquisar na própria web. Com essas facilidades aumentou o número de lojas virtuais, aumentou a concorrência e ganham os consumidores e os fornecedores que passam a ter mais opções para comprar e vender.

Os números da descentralização são os seguintes:
. O top1, a B2W que reúne Submarino + Americanas + Shoptime + Blockbuster, continua sendo a primeira em vendas. Entretanto teve diminuida sua participação no mercado. No primeiro semestre de 2008 representava 41,50% e, no primeiro semestre de 2009, teve participação de 36%. É uma diminuição de 5,50%.
. Os top10 detinham 76,30% do mercado e agora têm 74,10%. Perderam, portanto, 2,30%.
. Os top20 passaram de 85,60% para 83,80%. Diferença de 1,80%.
. Os top50 já tiveram 91,90% e agora têm 90,30%. Perderam 1,60%.

Como o mercado de e-commerce continua crescendo, as perdas acima foram para onde? A resposta está nos números das empresas abaixo da posição 50 do ranking, a long tail, a cauda longa. Sua participação no primeiro semestre de 2008 era de 8,10% do mercado e, neste semestre inicial de 2009, pulou para 9,70%. São mais 1,60% e a tendência é a continuação dessa descentralização, o que é muito bom.

Portanto, e mais uma vez, sua livraria já está na web ou vai continuar de fora deste mercado?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Uma Nova Ameaça à Circulação dos Livros?

Esta semana a imprensa brasileira repercutiu uma notícia sobre a Amazon e seu aparelho leitor para livros digitais, o Kindle. A notícia, o fato, foi o seguinte: a Amazon descobriu que dois livros digitais vendidos através de seu site, "A Revolução dos Bichos" e "1984" (as edições brasileiras são atualmente da Cia das Letras), ambos de George Orwell, eram piratas, isto é, a empresa que os disponibilizou para venda no site da Amazon não detinha os direitos para tal.

Que fez a Amazon, então? Segundo o comunicado oficial, parcialmente reproduzido na Ilustrada da Folha de São Paulo no dia 22.07.2009, "quando fomos notificados pelos donos dos direitos, nós removemos as cópias do nosso sistema e dos dispositivos dos clientes e os ressarcimos."

Algumas questões importantes se impõem para discussão:

1-a Amazon, ao não checar a procedência dos produtos que disponibiliza para venda, acabou por vender produtos piratas. Isto pode ser considerado como receptação de mercadoria roubada, tendo em vista que os direitos autorais não foram respeitados. Por analogia, é o mesmo que lojas de reprodução xerográfica venderem cópias de livros em xerox nas faculdades. Ainda no comunicado oficial, a Amazon reconhece o erro e diz que "... nós estamos mudando nossos sistemas de modo que, no futuro, não vamos mais remover livros dos dispositivos de clientes em circunstâncias como estas." Atenção para a expressão "em circunstâncias como estas". Quer dizer que, em outras circunstâncias, podem vir a deletá-los, é isso? E em quais circunstâncias?

2-e o que fez a Amazon para corrigir o erro da venda de produtos ilegais? Sem prévio aviso a nenhum dos clientes e com o apertar de algumas teclas, remove, deleta, e à distância, as cópias digitais dos aparelhos Kindle, que são propriedade privada das pessoas que os compraram, tanto as cópias quanto os aparelhos. Pelo menos era o que se imaginava. Essa possibilidade de deletar cópias digitais nos aparelhos Kindle não era do conhecimento de ninguém. Uma pessoa comprou um produto, a cópia digital, mas, na prática, não é a dona dele. Isto vai gerar muita discussão na nossa sociedade de consumo e vai por em cheque a percepção de valor atribuída ao livro digital em comparação com o exemplar físico. Mais uma analogia: em 2007 a Justiça brasileira determinou que a editora Planeta recolhesse das livrarias e do seu estoque os exemplares da biografia de Roberto Carlos escrita por Paulo Cesar de Araujo. Entretanto, ninguém foi à casa das pessoas que já tinham comprado o livro e o pegou, com ou sem autorização, nem se exigiu que as pessoas os devolvessem.

3-atualmente a Amazon domina a venda de e-books. Porém, utiliza uma estratégia que não é boa para a concorrência e torna as editoras dependentes, pois seus e-books podem ser lidos no Kindle, que ela desenvolveu e vende. Nesta mesma semana a Barnes & Noble , maior rede de livrarias físicas do mundo, anunciou que a partir do dia 20.07.2009, passou a ser também a maior livraria de e-books com uma oferta inicial de 700 mil títulos; destes, 500 mil podem ser lidos gratuitamente, graças a uma parceria com o Google, pois são de domínio público. Os outros 200 mil são vendidos ao preço de U$ 9,99. Mas, o mais importante é que, ao contrário da Amazon, que obriga a compra do seu leitor, o Kindle, para a leitura dos livros, a Barnes & Noble permitirá que os e-books sejam lidos em vários dispositivos, como no computador ou em smartphones, como o iPhone e o Blackberry. Este é um ponto chave para as editoras pois, se se sujeitarem a que os e-books só possam ser lidos em determinados aparelhos, perderão muito nas negociações futuras. A hora de definir a independência editorial é agora enquanto os e-books ainda não são uma parcela importante do faturamento das editoras. Imagine se, para ouvir um CD ou ver/ouvir um DVD você precisasse de um aparelho específico para cada fornecedor desses conteúdos? Quantos aparelhos teríamos que ter?

4-mas, o ponto mais importante, o crucial, é que a Amazon, ao ter a possibilidade de deletar à distância o conteúdo de um livro digital anteriormente vendido, abre a brecha para aprimorar a CENSURA à circulação das ideias. No caso será uma censura a posteriori. Explico-me melhor. A história está repleta de exemplos de apreensão e queima de livros (físicos) por regimes e governos autoritários. Estão aí os exemplos da queima de livros na Alemanha nazista, ou a proibição do livro "Os Versos Satânicos", de Salman Rusdie pelo regime dos aiatolás do Irã. No Brasil mesmo, durante o regime militar, ocorreu apreensão de livros, desde O Capital, de Marx, até A Capital, de Eça de Queiróz. Essas ações dependeram do emprego de força física, do levantamento de informações para saber quem tinha os livros e onde estavam, de ir no local e recolhê-los etc, etc. E mesmo, assim, sempre seria impossível recolher e destruir todos os exemplares. Agora, imagine o mundo daqui a uns cem anos, vá lá, onde os e-books já serão muito significativos - se não a maior parte do suporte para livros -, imagine a possibilidade de um governo ou uma empresa privada resolver que determinado livro não deverá mais ser lido? Com um simples apertar de teclas, as ideias que possam incomodar ou vir a incomodar qualquer pensamento autoritário de plantão serão fácil, e rapidamente, eliminadas. Essa possibilidade, desnudada mesmo que sem querer pela Amazon, caso não seja coibida pela sociedade democrática, transformar-se-á no sonho de consumo de qualquer pretendente a ditador.

Esta história dos livros deletados ainda tem um lado bem irônico, pois ocorreu, justamente, com os livros de George Orwell, nos quais ele solta o verbo contra regimes autoritários instituídos (A Revolução dos Bichos), e contra os que, já visionariamente, ele achava que podiam vir a ser instituídos (1984).








Fontes de pesquisa:

Folha de São Paulo, Ilustrada, dia 22.07.2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Indicações #4: Lady Sings the Blues

Sexta-feira, 17 de julho de 1959, 50 anos atrás, às três horas da madrugada, morria Billie Holiday. Nascida de um casal de crianças - o pai tinha 15 anos e a mãe 13 - em Baltimore em 07 de Abril de 1915, foi batizada Eleanora, mas ficou conhecida como Lady Day, apelido dado pelo amigo e saxofonista Lester Young.

Lady Day teve seu gosto musical formado quando ainda era menina. "Andando de bicicleta ou lavando o chão nojento de um banheiro, eu cantava o tempo todo. Gostava de música. Se havia um lugar onde pudesse ouvir música, eu ia até lá." pág 12

Uma vitrola era um negócio e tanto naqueles dias e, nas redondezas, só o bordel de Alice Dean tinha uma; passou a trabalhar lá como faxineira. "Quando chegava a hora de me pagar, eu dizia a ela [Alice] para ficar com o dinheiro se me deixasse ir até a sala de visitas e ouvir Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola. [...] Lembro-me da gravação de 'West End Blues' por Louis e de como ela mexia comigo. [...] Às vezes o disco me deixava tão triste que eu chorava horrores. Outras vezes, o mesmo disco desgraçado me deixava tão feliz que me esquecia do dinheiro tão duramente ganho que me custava aquela audição na sala de visitas." pág 13

Billie Holiday teve uma infância muito sofrida; trabalhou de faxineira; criada; quase estuprada aos 10 anos, não escapou de o ser aos 12 anos; prostituta aos 15; foi presa injustamente e cumpriu 4 meses de detenção.

Em 1930, em plena Depressão, morava com a mãe no Harlem, na Rua 139. "Decidi dar um basta à vida de prostituta. Mas decidi também que não ia ser criada de ninguém. [...] Eu estava com uns 15 anos, então, mas parecia ter idade suficiente para votar." pág 36

O começo da cantora Billie Holiday:

"Um dia, quando o aluguel já tinha vencido, ela [minha mãe] recebeu uma notificação de que a justiça iria nos despejar. Estávamos no meio do inverno e ela [doente] não podia sequer caminhar. [...] Fazia um frio terrível naquela noite [véspera do despejo], e eu saí à rua sem nenhum agasalho.

Desci a Sétima Avenida da Rua 139 à Rua 133, invadindo cada espelunca e tentando descolar um emprego. Naqueles dias a Rua 133 era a verdadeira área do agito [...]. Estava cheia de clubes que ficavam abertos até o fim da madrugada, boates com horários regulares, restaurantes, cafés, uma dúzia por quarteirão.

Finalmente, quando cheguei ao Pod´s and Jerry´s estava desesperada. Fui entrando e perguntando pelo dono. Disse que era dançarina e queria mostrar meus dotes. Eu conhecia apenas dois passos. [...]

Iam me puxar pelas orelhas e jogar na rua, mas eu continuava implorando pelo emprego. Finalmente o pianista sentiu pena de mim e disse:
-Garota, você sabe cantar?
-Claro que sei cantar, mas de que adianta isso?

Eu tinha cantado a vida inteira [só tinha 15 anos], mas sentia prazer demais naquilo para achar que pudesse ganhar dinheiro de verdade cantando. [...]

Pedi ao pianista que tocasse 'Travellin´all alone'. Era o que mais se aproximava do meu estado de espírito. E devo ter transmitido uma parte daquilo à plateia. A boate inteira ficou em silêncio. Se alguém deixasse cair um alfinete, soaria como uma bomba. Quando terminei, todo mundo estava chorando no copo de cerveja. [...] Quando deixei a boate naquela noite dividi a féria com o pianista e ainda levei para casa 57 dólares [precisava de 45 para o aluguel]."
págs 37-8

Passou a ter um emprego fixo como cantora a 18 dólares por semana.

Billie Holiday é certamente um dos mitos mais trágicos e sublimes de sua época. Enfrentou o racismo, a pobreza e a brutalidade das prisões para se tornar uma das maiores cantoras de jazz de todos os tempos. Gravou discos, fez filmes, frequentou programas de rádio e televisão, sem jamais ter conseguido receber os direitos autorais de suas músicas e de suas gravações.

A grande dama do jazz morreu pobre, viciada em heroína e já praticamente sem voz. No velório Lady Day trajava o seu vestido de palco favorito, cor-de-rosa rendado com luvas longas.

Fonte:
Este post é uma colagem de passagens do livro Lady Sings the Blues publicado pela Zahar.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Dicas Formação Profissional #1: você

Como já comentado em outros posts não existe uma formação formal para as pessoas que trabalham com livros na área de vendas e/ou atendimento ao cliente de livrarias, o leitor, e ao cliente de editoras e distribuidoras, as livrarias. Constatado o problema, qual a alternativa?

Como você trabalha com livros fica mais fácil investir na sua própria formação profissional. Como? É simples, lendo. Se você não tem o hábito da leitura, é bom começar a adquiri-lo já. Em primeiro lugar porque sempre será mais fácil vender um produto, o livro no caso, se você conhecer bem o que pretende vender. A leitura dos livros propicia esse conhecimento. Além disso, com leituras direcionadas, pode-se aprender com a experiência dos outros com relação a métodos de venda, como atender o cliente, como transformar o cliente em freguês (fidelizá-lo), criação de ações promocionais, relacionamento com colegas e chefes etc, etc.

O mercado do livro cresce a cada ano e caminha mais e mais, a cada dia, para a profissionalização. Portanto, os melhores empregos, os melhores salários, estarão à disposição dos melhores profissionais, dos mais capacitados. Por isso, invista em você agora para não ficar à margem deste processo.

Vou passar a indicar nestas dicas livros que já li e que podem ajudar na formação profissional de quem trabalha na área. Começo com dois livros pequenos e de leitura rápida e agradável, com a esperança que peguem o gosto.

"Superdicas para Vender e Negociar Bem", de Carlos Alberto Júlio, publicado pela Editora Saraiva. Seguem algumas passagens:

pág 13 Vender exige foco, disciplina e organização.
pág 20 Quem não sabe o que vende, não vende!
pág 21 Muitas vezes nossa competitividade em relação aos concorrentes está nos serviços que oferecemos, e não nos produtos.
pág 58 A credibilidade é conquistada nos detalhes e também é destruída por eles.
pág 67 Monitore a concorrência.
pág 80 Atendimento é resolver os problemas do cliente.
pág 91 Em vendas é preciso agir rápido: o pedido perdido hoje não volta mais.
pág 117 Quem fideliza o cliente é quem o atende.

O livro tem muito mais do que estas pequenas "pílulas". Vale a leitura.

A outra sugestão é "Clássicos do Mundo Corporativo", de Max Gehringer, publicado pela editora Globo. Algumas passagens:

pág 17 Nosso nome é a nossa primeira marca registrada.
pág 25 Em uma entrevista, nada melhor que a sinceridade.
pág 54 Liderança nada mais é que a capacidade de influenciar um grupo.
pág 60 Parece simples, mas responder "não sei" é uma das coisas mais difíceis de aprender na vida corporativa.


Boas leituras e até as próximas dicas.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Livro Digital, a Amazon e o Kindle

Tendo em vista a importância do assunto reproduzo, na íntegra, matéria publicada pelo Jornal Valor Econômico.


EUA: Editoras temem o poder da Amazon com o Kindle
Valor Econômico 10/07/2009
Autor: Joseph Galante e Greg Bensinger

"O Kindle, da Amazon.com, que acelerou a compra de livros eletrônicos, poderá reduzir os lucros das editoras se a varejista pela internet jogar mais duro nas negociações sobre os preços pagos pelos títulos digitais.

As editoras nos EUA normalmente ganham cerca de US$ 2,15 por livro digital, contra US$ 0,26 por um exemplar impresso, segundo a Sanford C. Bernstein. Por um lado, as editoras veem os livros digitais como o futuro, mas, por outro, o mercado é dominado pelo Kindle, o que as deixa vulneráveis ao poder de negociação da Amazon.com. "Não queremos ficar em uma posição em que só podemos vender o nosso livro em um lugar", disse Maja Thomas, vice-presidente-sênior de mídia digital da Hachette Book Group, divisão da francesa Lagardère, sediada em Nova York. "Queremos o que as editoras querem e o que todo autor quer, que é a ubiquidade."

A Amazon, que na quarta-feira reduziu o preço do Kindle, paga de US$ 12 a US$ 13 ao editor por edições de livros que estão na lista dos mais vendidos do New York Times, e normalmente os vende por US$ 9,99 para os usuários do Kindle, disse Paul Aiken, diretor-executivo do Authors Guild, organização sediada em Nova York que dá apoio jurídico aos escritores. As editoras estão preocupadas com a possibilidade de a Amazon baixar os preços pagos a elas, de forma a aumentar o que ganha com a venda de livros, disse ele. "O setor, como um todo, está um pouco nervoso com o Kindle e a possibilidade de que a Amazon realmente venha a controlar totalmente o mercado de livros eletrônicos", disse Aiken. "O caminho inicial que for tomado neste ponto poderá determinar onde o setor editorial vai terminar e onde as pessoas vão obter seus livros eletrônicos no futuro."

Na situação atual, o preço de US$ 9,99 por um livro eletrônico é insustentavelmente baixo para a Amazon e as editoras, disse Claudio Aspesi, analista da Sanford C. Bernstein. A Amazon provavelmente vai aumentar o preço cobrado aos usuários do Kindle para US$ 12,50 e pressionar as editoras a venderem livros eletrônicos por menos, para que ela tenha lucro, disse Aspesi.

A Amazon é a maior varejista pela internet do mundo, tendo vendido US$ 4,89 bilhões no primeiro trimestre. Drew Herdener, porta-voz da empresa, recusou-se a comentar o relacionamento da Amazon com as editoras. Ele também se negou a discutir a estratégia de preços da empresa e se ela vende alguns livros abaixo do preço de custo.

O Kindle tem duas versões, uma que é vendida por US$ 299 e um modelo maior, de US$ 489. Há mais de 300 mil livros disponíveis para o equipamento. Demora menos de um minuto para baixar um livro, e uma tela branca-e-preta de alta resolução imita a aparência de um livro impresso. Até 2012, a Amazon.com deverá contabilizar mais de US$ 2 bilhões em lucros anuais com o Kindle e o seu conteúdo, previu Sandeep Aggarwal, analista da Collins Stewart. A Amazon.com não informa dados sobre as vendas do Kindle.

As editoras contam com a chegada de concorrentes para reduzir a sua dependência do Kindle. Empresas como a Plastic Logic e a FirstPaper, que é apoiada pela Hearst Corp., estão lançando equipamentos digitais de leitura. Até o fim do ano, o Google pretende oferecer às editoras um programa para a venda de livros eletrônicos diretamente para os consumidores, através da internet, disse Gabriel Stricker, porta-voz da empresa."

sábado, 27 de junho de 2009

Indicações # 3: Ouvintes Alemães


Ouvintes Alemães! discursos radiofônicos contra Hitler (1940-1945) traz a intensa participação, quase que mensal, do mais importante escritor alemão do séc XX, Thomas Mann, nos eventos da Segunda Guerra Mundial. Filho de mãe brasileira e pai alemão, Thomas Mann nasceu em 06/06/1875 na Alemanha e faleceu em 12/08/1955, na Suíça.

Mas, o que levou a BBC a convidar o alemão Thomas Mann, já famoso pelos livros Os Buddenbrooks (1901), Morte em Veneza (1912), A Montanha Mágica (1924) e pelo Nobel de Literatura ganho em 1929, a participar da estratégia de contrapropaganda durante a Segunda Guerra Mundial, realizada pelo governo inglês chefiado pelo Primeiro Ministro Winston Churchill? Uma pequena cronologia pode ajudar a contextualizar o convite e essa participação:

1918 Thomas Mann publica Considerações de um Apolítico, em que defende ideias conservadoras e monarquistas;
1922, em 15 de outubro, discursa “Da República Alemã” (Von Deutscher Republik) na Sala Beethoven em Berlin, onde defende a democracia da República de Weimar (1919-1933);
1930, outubro, Thomas Mann fez em Berlim um discurso, apelando "à razão alemã" e à burguesia e às forças socialistas para que rejeitassem o fanatismo fascista. Suas palavras foram interrrompidas por tumultos organizados pela polícia nazista e o escritor foi obrigado a abandonar o recinto pela porta dos fundos;
1933, em 30 de janeiro, Hitler assume o poder na Alemanha; Thomas Mann estava em viagem fazendo palestras na Holanda, Bélgica e França. Decide não voltar para Berlim e se auto-exila na Suíça;
1936, 2 de dezembro, o jornal nazista Observador Popular (Volkischer Beobachter) publica as listas de expatriados, isto é, pessoas de quem foi retirada a cidadania alemã pelo Reich; Thomas Mann está na 7a lista.
1937, janeiro, O Ministério de Esclarecimento Popular e Propaganda do regime nazista anunciava: "Thomas Mann deve ser apagado da memória de todos os alemães, por não ser digno de carregar o nome de alemão".
1938, exila-se nos Estados Unidos;
1939, 1 de setembro, início oficial da Segunda Guerra Mundial.

É assim, portanto, que (nas palavras de Thomas Mann) "No outono de 1940, a British Broadcasting Corporation - BBC - entrou em contato comigo e me convidou para transmitir regularmente a meus compatriotas pequenos discursos em que eu deveria comentar os acontecimentos da guerra e buscar influenciar o público alemão na direção das convicções que tantas vezes expressei." pág 7.

Deste convite resultaram 58 discursos escritos por Thomas Mann; o primeiro foi ao ar em outubro de 1940 e o último em 8 de novembro de 1945 e, em todos eles, o início foi sempre o mesmo Deutsche Hörer! (Ouvintes Alemães!). Nestes discursos tem-se a escrita de leitura agradável, a concisão (dispunha somente de 8 minutos), a clareza das ideias e a grande capacidade de análise dos acontecimentos. Era praticamente uma análise "online" do que acontecia na Europa. Além disso, em muitos desses discursos, Thomas Mann chega a ser visionário com relação ao que vai acontecer após a derrota de Hitler no que, aliás, acreditava piamente.

Mas, como era o processo de transmissão desses discursos? A transmissão era feita de Londres, "em ondas longas e, portanto, poderiam ser ouvidas pelo único tipo de rádio que o povo alemão tinha permissão de ter." pág 7. Porém, se Thomas Mann estava exilado nos Estados Unidos, como isso era feito? É o próprio que explica:
"No início, as transmissões eram realizadas da seguinte maneira: eu telegrafava meus textos para Londres, onde eram lidos por um funcionário da BBC que falasse alemão. Por minha sugestão, um método mais complicado, porém mais direto e, portanto, mais simpático, foi logo adotado. Tudo o que tenho agora a dizer é gravado no Recording Department na NBC, em Los Angeles; a gravação é enviada a Nova York por via aérea e então transferida, por telefone, para outra gravação em Londres, onde é executada diante do microfone. Dessa forma, não apenas minhas palavras, mas minha própria voz são ouvidas por aqueles que se atrevem à escuta clandestina." pág 8.

Não achei referências quanto aos níveis de audiência das transmissões mas Thomas Mann comenta no prefácio à primera edição do livro que "o número de pessoas que escuta é maior do que se poderia esperar, (...) A prova mais cabal de que é assim - uma prova ao mesmo tempo divertida e asquerosa - é dada pelo fato de que meu próprio Führer, em um discurso numa cervejaria em Munique, aludiu de forma inconfundível às minhas emissões e disse que eu era um desses que tentam incitar o povo alemão à revolução contra ele e seu sistema." pág 7-8

O primeiro discurso de 1940 começou assim:
"Ouvintes alemães!
É um escritor alemão que vos fala, um escritor que, assim como sua obra, foi proscrito pelos governos alemães, e cujos livros, mesmo que tratem daquilo que é mais alemão, de Goethe, por exemplo, só podem falar a povos estrangeiros e livres na língua deles, enquanto para vocês têm de permanecer mudos e desconhecidos. Minha obra retornará a vocês um dia, estou certo, mesmo que eu próprio não possa mais fazê-lo
." pág 15 (T. Mann não voltou a morar na Alemanha).

Segue uma seleção de trechos para dar a noção de como é bom este livro:

Novembro de 1940
"E o que deve ser e será o desfecho desta guerra é algo claro. (...) a defesa dos valores individuais nos limites das exigências da vida coletiva." pág 20

Fevereiro de 1941
"(...) o indivíduo Hitler, com sua insondável falsidade, sua reles crueldade e seu desejo de vingança, com seus constantes rugidos de ódio, seu estropiamento da língua alemã, seu fanatismo medíocre, sua ascese covarde e sua perversidade miserável, sua humanidade defeituosa que carece de qualquer traço de magnanimidade e de vida espiritual elevada, que o indivíduo Hitler, digo, é a mais repugnante figura sobre a qual jamais caiu a luz da história!" pág 31

Março de 1941 (discurso n.5), o próprio Thomas Mann passa a ler os discursos.
"Ouvintes alemães!
O que eu tinha para dizer a vocês de longe tinha sido feito até então por outras vozes. Desta vez, vocês ouvem minha própria voz
." pág 33

Maio de 1941
"A revolução de Hitler é pura fraude; ele não é nenhum revolucionário, mas apenas um bandido e um explorador da crise mundial, crise que deve levar os povos a um novo e mais alto grau de sua formação social e de sua maturidade. Os fundamentos da paz vindoura precisam ser a justiça e a liberdade, assim como a possibilidade de que todos tenham igual acesso aos bens do mundo, e o futuro pertence a uma comunidade de povos livres, livres mas responsáveis por sua comunidade e prontos a sacrificar a antiquada soberania nacional a essa responsabilidade." págs 41-42

Agosto de 1941
"Fará uma enorme diferença para o futuro se forem vocês mesmos, alemães, a eliminar o homem do terror, esse Hitler, (...)" pág 52

Setembro de 1941
"[alemães, vocês] ... deveriam pensar que a concepção de aniquilação dos povos e do extermínio das raças é uma ideia nazista - ela não é natural nas cabeças das democracias." pág 54

"(...) Himmler disse abertamente que vai exterminar a nação theca fisicamente, como um todo, se ela não se submeter sem resistência à raça de senhores (...)." pág 55

Novembro de 1941
"A contrapartida cristã dessas execuções em massa por gás são os ´dias de acasalamento´, em que soldados de licença são conduzidos a encontros animalescos com jovens da BDM (Bund Deustcher Mädchen - Associação das Mulheres Alemãs) para produzir bastardos do Estado que possam servir na próxima guerra. Pode um povo, uma juventude decair mais?" pág 62

Janeiro de 1942
"É extremamente difícil imaginar a convivência do povo alemão com os outros povos depois da guerra. Sempre houve guerras , e as nações que as empreenderam sempre causaram muitos danos umas às outras. Graças à memória curta das pessoas, isto foi sempre enterrado e rapidamente esquecido. Desta vez, será diferente. O que a Alemanha faz, o que inflige de desgraça, miséria, desespero, decadência, destruição moral e física à humanidade ao praticar a filosofia revolucionária da bestialidade é de uma tal medida, é tão revoltante e desesperadamente inesquecível, que não se pode prever como nosso povo poderá no futuro viver como igual entre iguais com os povos irmãos da Terra." pág 73

"Aqueles dentre vocês para quem meu nome ainda significa alguma coisa sabem bem que não sou nenhum revolucionário, nem homem de barricadas, nenhum instigador de atos sangrentos por natureza. Mas também conheço o suficiente das leis morais do mundo e sinto por elas respeito o bastante para dizer a vocês e anunciar com segurança: uma depuração, uma purificação e uma libertação devem e vão acontecer na Alemanha, tão radicais e tão determinadas que estejam à altura de atos criminosos nunca antes vistos no mundo. Devem e vão acontecer, digo eu, para que o grande povo alemão possa olhar a humanidade outra vez nos olhos e estender a mão para ela, com gestos livres, em sinal de reconciliação." pág 74

Maio de 1942
"A honra e a igualdade de direitos vão ter de esperar. A liberdade e a igualdade foram negadas e pisoteadas pela Alemanha por tempo demais para que possa exigi-las no primeiro dia do armistício. Uma longa quarentena de precaução e vigilância será inevitável. A Alemanha será ajudada economicamente, mas o poder militar terá de ser negado a um povo que por tanto tempo só pôde imaginar sua unificação com o mundo na forma de dominação desse mundo. A formação política interna da Alemanha será deixada aos próprios alemães, e a tarefa dos alemães, nesse sentido, assim como a prova de sua confiabilidade futura, será a de assumir a responsabilidade pela purificação de seu corpo social, que tem de ser profunda e não pode se limitar à extinção da peste nazista. Ela deve atingir toda a camada de homens que utilizaram o nazismo como instrumento para satisfazer sua sede de poder e cobiça, camada que não deve mais ser capaz de fazer da Alemanha o flagelo da humanidade." págs 91-92

Setembro de 1942
"(...) o Exército alemão (...) até ser derrotado, ele está loucamente empenhado no extermínio dos judeus. O gueto de Varsóvia, onde foram empilhados em pouco mais de vinte míseras ruas, 500 mil judeus da Polônia, da Áustria, da Tchecoslováquia e da Alemanha, não passa de um buraco de fome, peste e morte que exala cheiro de cadáver. Sessenta e cinco mil pessoas morreram lá em um ano, o ano passado. Segundo informações do governo polonês no exílio, a Gestapo já matou ou torturou até a morte um total de 700 mil judeus, dos quais 70 mil apenas na região de Minsk na Polônia. Vocês, alemães, sabiam disso? E o que acham?" (grifo meu) pág 106

Outubro de 1943
"É inacreditável (...) o que eles fizeram através das mãos dos filhos de vocês, através das mãos de vocês. É inacreditável, mas é verdade. Você que está me ouvindo conhece Maidnek, perto de Lublin, na Polônia, um campo de extermínio de Hitler? Não era um campo de concentração, mas um gigantesco estabelecimento de assassinato. Lá existe um grande prédio de pedra com uma chaminé de fábrica, o maior crematório do mundo. (...) Mais de meio milhão de europeus, homens, mulheres e crianças, foram envenenados com cloro e depois queimados, 1.400 por dia. A fábrica da morte funcionava dia e noite; suas chaminés nunca deixavam de soltar fumaça. (...) ossos humanos, barris de cal, encanamentos de gás e crematórios; além disso, as pilhas de roupas e sapatos tirados das vítimas, muitos sapatos pequenos, sapatos de criança, se é que vocês, compatriotas alemães, e vocês, mulheres alemãs, querem continuar ouvindo. De 15 de abril de 1942 a 15 de abril de 1944, apenas nesse dois estabelecimentos alemães [campos de Auschwitz e Birkenau] foram mortos 1.715.000 judeus. De onde tiro os números? Pois seus soldados faziam a contabilidade, com aquele senso de ordem alemão!" págs 191-192

"Só dei alguns exemplos do que vocês terão de encarar. (...) Alemães, vocês precisam saber disso." págs 192-193

Ouça aqui um dos discursos, na voz de Thomas Mann:
http://www.youtube.com/watch?v=25YNc5bX7xY


Fontes:


Sonia Dayan-Herzbrun. Thomas Mann: um escritor contra o nazismo
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31731997000100005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Rachel Gessat
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,340994,00.html

Richard Miskolci
http://www.ufscar.br/richardmiskolci/paginas/academico/cientificos/eros_presidente.htm

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Formação de Livreiros 2: uma solução?

Dando continuidade à discussão desta necessidade do mercado acho que é fundamental pensar na formação do livreiro de modo formal e profissional, qual seja, uma escola ou curso profissionalizante.

A indústria do livro tem uma cadeia que, na maioria absoluta de seus segmentos, precisa de profissionais com formação específica e com alguns anos de estudo direcionado para o exercício das funções. Pense nos editores, tradutores, revisores, capistas, produtores gráficos, designers etc. Todos eles tiveram que estudar alguns anos para aprender conceitos, técnicas e adquirir conhecimento específico para poderem exercer suas atividades dentro de uma editora. Da soma destes trabalhos temos o livro a ser impresso nas gráficas e que, depois, será vendido, principalmente, nas livrarias.

Quando o livro chega nas livrarias deparamo-nos com uma questão. Quem vai vender esse produto resultante de tanto trabalho especializado? Tão diferenciado em relação a outros produtos, seja pela quantidade de títulos, seja pela variedade de assuntos, seja pelo simbolismo que faz parte do próprio objeto livro: suporte para a transmissão do conhecimento.

Hoje, a maioria das pessoas que trabalha em livrarias, no atendimento direto ao cliente, não tem formação nem treinamento específico e nem perspectivas de ter acesso a eles. A exceção são umas poucas livrarias, normalmente algumas das redes, que têm visão e condições financeiras de investir em programas de treinamento para seus funcionários. Nas condições atuais do mercado, o investimento de uns poucos e o não investimento da maioria na formação de livreiros ajuda o processo de concentração a que assistimos. Qual a saída?

Imagino que possa ser a criação de uma escola para a formação de livreiros. Mas, quem se interessaria em investir num projetos desses, isto é, quem vai pagar a conta? Qual seria a abrangência geográfica da escola? Quem seriam os professores? Qual o currículo e o conteúdo a ser ministrado?

Temos no mercado do livro várias e várias instituições como SNEL, CBL, ANL, LIBRE, ABEU, ABRELIVROS, ABDR etc, etc. Salvo engano, nenhuma delas isoladamente ou em conjunto, tem um projeto de investir na formação de mão-de-obra para a ponta final da cadeia produtiva do livro, isto é, para o livreiro. Existem algumas pequenas iniciativas muito isoladas em termos geográficos e, na maioria das vezes, voltadas para a área editorial.

Por que estas instituições não se juntam por exemplo com o Senac, que tem abrangência nacional, e organizam uma escola para livreiros? O Senac tem entre suas atribuições a formação de mão-de-obra para o comércio. Pelo menos nas principais cidades as instalações físicas já existem para as aulas; onde não fosse viável a existência física do curso a educação à distância, via web, poderia ser utilizada.

É claro que não adianta somente uma formação teórica para os livreiros; é necessária também uma formação prática e, neste caso, a criação de livrarias-escola vinculadas ao Senac seria fundamental. Também poderiam ser feitos convênios com livrarias, sejam elas de rede, sejam as chamadas independentes, onde esses alunos pudessem estagiar.

Outra questão prática aparece: quem seriam os professores? Acho que os mais indicados são os inúmeros profissionais que hoje trabalham em editoras e livrarias e que já têm anos e anos de experiência; experiência essa que pode e deve ser transmitida nas áreas comercial, editorial, marketing, financeira, logística, web etc. Isso não exclui, é claro, professores universitários que já atuam em áreas ligadas ao tema.

Na questão do currículo, do conteúdo, alguns temas gerais deveriam estar presentes:

- breve história do livro;
- história do livro no Brasil;
- pequena história das livrarias;
- pequena história das editoras;

Com formação profissional de qualidade acho que será possível mostrar para as pessoas que é viável, que é factível fazer uma carreira dentro de uma livraria; que é possível crescer e ter uma boa remuneração. Trabalhar em livraria vai deixar de ser um emprego temporário até que apareça algo melhor para a pessoa ou que ela termine a faculdade. Acho que só assim o mercado do livro como um todo, poderá se consolidar de vez como uma atividade econômica importante para o país. Hoje, a ponta final, que está na livraria, no livreiro, ainda é muito frágil.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O Livro e seus Suportes: do barro ao digital - parte 1

De todas as invenções já criadas pelo ser humano, e de todas as que ainda estão por vir, creio que a mais importante ou, pelo menos, a basilar, foi e será a invenção da escrita. E por quê? Porque a escrita possibilitou que o conhecimento deixasse de morrer com as pessoas. Uma parte pequena foi e, em algumas sociedades, ainda é transmitida pela oralidade. Mas, o mais importante da escrita, é que ela possibilitou o acúmulo do conhecimento e sua posterior transmissão às próximas gerações com o uso dos mais diversos suportes para tal difusão. Além disso, ao "liberar" a memória, o intelecto humano pode dedicar-se ao pensamento com a consequente elaboração de novas ideias, donde mais conhecimento etc, etc.



Os mais antigos registros escritos conhecidos foram feitos por volta de 3.100 a.C., ou seja, há mais de cinco mil anos atrás. São as plaquetas de barro cozido encontradas no Templo Branco da cidade de Uruk. Nessas plaquetas os registros feitos pelos Sumérios utilizaram a técnica da escrita cuneiforme (símbolos gráficos em forma de cunha). Também foram utilizadas como suporte de registro peças de marfim, tábuas de madeira e placas de pedra.

Pensando-se em mobilidade, o próximo suporte para a escrita foi o papiro. "Foi por volta de 2500 a.C. que os egípcios desenvolveram a técnica do papiro, um dos mais antigos antepassados do papel. Para confeccionar o papiro, corta-se o miolo esbranquiçado e poroso do talo em finas lâminas. Depois de secas, estas lâminas são mergulhadas em água com vinagre para ali permanecerem seis dias, com o propósito de eliminar o açúcar. Outra vez secas, as lâminas são ajeitadas em fileiras horizontais e verticais, sobrepostas umas às outras. A seqüência do processo exige que as lâminas sejam colocadas entre dois pedaços de tecido de algodão, sendo então mantidas prensadas por seis dias. E é com o peso da prensa que as finas lâminas se misturam homogeneamente para formar o papel amarelado, pronto para ser usado. O papiro pronto era enrolado numa vareta de madeira ou marfim para criar o rolo que seria usado como suporte de escrita." (Paulo Heitlinger) O papiro prevaleceu como principal suporte até o fim do séc. III d.C. Por analogia à cidade fenícia onde compravam o papiro – Byblo –, os Gregos chamavam ao papiro byblo e, ao conjunto de rolos de madeira nos quais eram conservados os papiros escritos, byblias. Finalmente, às casas onde eram guardadas as byblias – bibliotecas. (acima à esquerda, a planta papiro; à direita, ao lado, um papiro escrito).

Por falar em bibliotecas, a famosa Biblioteca de Alexandria, no Egito, tinha como grande rival no acúmulo de conhecimento, a Biblioteca de Pérgamo (localizada na atual Turquia). Como o papiro era o suporte principal para a escrita, o faraó Ptolomeu V (210 - 180 a.C.) proibiu sua exportação para a cidade de Pérgamo, para evitar o crescimento da biblioteca concorrente. Para fazer frente ao problema o Rei Eumenes II de Pérgamo (197 - 158 a.C.) determinou que se encontrasse uma alternativa para a substituição do papiro na confecção dos "livros".

O uso do couro já era utilizado de há muito como suporte para a escrita e, com a necessidade, os sábios de Pérgamo aperfeiçoaram a técnica da sua confecção. Este novo suporte para a escrita passou a ser conhecido como pergaminho, numa referência à cidade onde começou a ser produzido. O pergaminho reutilizado após uma raspagem, denomina-se palimpsesto (palim, novo; psesto, raspado). O auge da utilização do pergaminho ocorreu entre os séculos IV e XIII, quando começou a ser substituído pelo papel, o terceiro principal suporte para a escrita das civilizações. (à direita, ruínas da biblioteca de Pérgamo).

Continua no próximo post com a invenção do papel em 105 d.C. na China.

Fontes:

Paulo Heitlinger - http://tipografos.net/

Cláudia Pires - http://www.revista-temas.com/contacto/NewFiles/Contacto12.html

domingo, 29 de março de 2009

Descentralização do e-commerce

No comércio realizado através das lojas físicas, a cada dia, percebe-se o aumento da concentração em lojas de rede e nos shoppings. No ano 2000 existiam no Brasil 280 shoppings; 2008 fechou com 377 shoppings em atividade. Em número de shoppings o crescimento foi de 34,64%. Porém, quando se olha os dados relativos a número de lojas e faturamento, os percentuais são bem mais elevados. O número de lojas cresceu 90,96% (de 34.300 para 65.500 lojas); o faturamento cresceu mais ainda: 147,51% (de 26,1 bilhões para 64,6 bilhões de reais). Para 2009 está prevista a abertura de mais 23 shoppings e outros 19 em 2010.

Na contramão desta tendência de concentração, dados divulgados pela e-bit, indicam uma descentralização no e-commerce no que diz respeito ao número de pedidos feitos nas lojas virtuais. Na comparação entre os últimos trimestres de 2007 e 2008 existe queda no número de pedidos para as 50 maiores lojas de e-commerce, sendo a maior queda na principal, a B2W (que reúne o Submarino, a Americanas, a Shoptime e a Blockbuster). A variação chegou a -11,80%.

Portanto, isso prova que a web possibilita que pequenas lojas também podem ter resultados positivos no e-commerce, pequenos e médios varejistas obtiveram crescimento no número de pedidos, com a variação chegando a +6,0%. O quadro abaixo, copiado da B2B Magazine, resume os importantes números.

segunda-feira, 23 de março de 2009

e-commerce, balanço de 2008

Dia 17 de Março foi divulgada a 19a edição do relatório WebShoppers que "analisa a evolução do comércio eletrônico, as mudanças de comportamento e preferências dos e-consumidores."

No ano de 2008, segundo dados do Ibope Nielsen, 62,3 milhões de pessoas acessaram a web, de casa, do trabalho ou de lan houses.

Os principais dados do WebShoppers relativos a 2008 são os seguintes:
30% de crescimento no faturamento em relação a 2007;
R$ 8,2 bilhões de faturamento;
tíquete médio de R$ 328,00;




Em volume de pedidos as categorias mais vendidas são:
17% livros
12% saúde e beleza (inclui cuidados pessoais, perfumes, cosméticos e medicamentos)
11% informática
9% eletrônicos (inclui câmeras digitais)
6% eletrodomésticos

O Brasil já tem 13,2 milhões de pessoas que compraram pelo menos uma vez via web; em 2008, 51% foram do sexo feminino. De todas as pessoas que consumiram via web, 19% delas têm mais de 50 anos de idade.

As principais datas para compras, as já tradicionais, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal, tiveram crescimento nominal em relação a 2007. Interessante notar que o livro, que é o principal produto vendido na web, em nenhuma das datas acima foi o principal. Eletrodomésticos foi o principal no Dia das Mães; saúde, beleza e medicamentos no Dia dos Namorados; eletrônicos (inclui câmera digital) no Dia dos Pais; brinquedos no Dia das Crianças; informática no Natal.

A expectativa para 2009 é de continuidade no crescimento e, segundo o relatório, estima-se que o número de e-consumidores chegue a 17,2 milhões no fim do ano. A classe C, que já é a maior, com 42% dos e-consumidores deve aumentar mais ainda sua participação.

Sua livraria já está na web?

quarta-feira, 18 de março de 2009

Indicações # 2: O Culto do Amador

Desde ontem, 17 de março, está disponível nas livrarias um importante e polêmico livro: O Culto do Amador: como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores. O autor, Andrew Keen, foi um empreendedor pioneiro do Vale do Silício com o site de música Audiocafe.com. Este livro já foi publicado em 12 línguas diferentes e, creio, é fundamental para que possamos parar e debater sobre as consequências da web 2.0, as boas e as ruins. Andrew Keen já foi chamado de “uma prostituta mental do establishment” e de “Anticristo do Vale do Silício” por uns mas também é elogiado por outros; sinal de que o assunto web 2.0 tem muito pra ser discutido, pensado e repensado. (fonte site da Zahar)

“Maravilhoso e provocador . . . Eu acredito que esse é um poderoso livro que faz você parar e pensar no meio da obsessão e da quantidade de pessoas que buscam conforto na web2. Muito bem escrito também.” — Chris Schroeder, diretor-executivo WashingtonPost/Newsweek online e diretor-executivo Health Central Network.

"Embora eu não concorde com tudo que é dito por Keen, são páginas e páginas de insights e pesquisas muito interessantes. Aguardo o debate extremamente necessário sobre os problemas expostos - que precisam ser considerados." - Larry Sanger, co-fundador da Wikipédia, da qual já saiu, e fundador da Citizendium.

Andrew Keen escreve sobre mídia, cultura e tecnologia e seus textos são publicados nos periódicos Los Angeles Times, Wall Street Journal, Guardian, Independent, Forbes, Weekly Standard, Prospect e Fast Company, entre outros. Tem blog e site, o AfterTV e, na página 172 do livro escreve a seu respeito o seguinte: "Não sou nem antitecnologia nem antiprogresso. A tecnologia digital é algo de maravilhoso, que nos dá meios para nos conectarmos globalmente e partilharmos conhecimento de maneiras sem precedentes. Este livro certamente não poderia ter sido escrito sem o e-mail ou a internet, e sou a última pessoa a romantizar um passado em que escrevíamos cartas à luz de velas e elas eram entregues pelo Poney Express. A tecnologia digital tornou-se uma parte inescapável da vida no século XXI."

Como já li o livro (e do qual gostei muito), vou separar umas passagens que julgo importantes com o objetivo de despertar o interesse na leitura e posterior discussão dos temas propostos por Keen.

pág 24 "Hoje há potencialmente um Grande Irmão até mais ameaçador escondido nas sombras: o mecanismo de busca."

pág 25 "Mecanismos de busca como o Google sabem mais sobre nossos hábitos, interesses e desejos do que nossos amigos, nossos entes queridos e nosso psiquiatra juntos."

pág 27 "(...) Lawrence Lessing, fundador do Creative Commons, e William Gibson, o autor ciberpunk, enaltecem a apropriação da propriedade intelectual."

pág 28 " Kevin Kelly (...) tece rapsódias sobre a morte do texto independente tradicional - o que séculos de civilização conheceram como livro."

pág 45 "Ao solapar o especialista, a onipresença do conteúdo gerado pelo usuário e gratuito ameaça o próprio cerne de nossas instituições profissionais. A Wikipédia de Jimmy Wales, com seus milhões de editores amadores e conteúdo não confiável, é o 17 site mais acessado da internet; Britannica.com, com seus 100 ganhadores do Prêmio Nobel e 4 mil colaboradores especialistas, está em 5.128 lugar."

pág 47 "Com uma quantidade cada vez maior da informação online não editada, não verificada e não comprovada, não teremos outra escolha senão ler tudo com ceticismo. (...) A informação gratuita de fato não é gratuita; todos nós acabamos pagando por ela de uma maneira ou de outra com o mais valioso de todos os recursos - nosso tempo.
A Wikipédia está longe de estar sozinha em sua celebração do amadorismo. Os `jornalistas-cidadãos` também - os analistas, repórteres, comentadores e críticos amadores na blogosfera - empinham a bandeira do nobre amador na web 2.0."

pág 56 "Jürgen Habermas falou sobre a ameaça que a web 2.0 representa para a vida intelectual no Ocidente: ´o preço que pagamos pelo crescimento do igualitarismo oferecido pela internet é o acesso descentralizado a artigos não editados. Nesse meio, as contribuições de intelectuais perdem seu poder de criar um foco.´"

pág 57 "Kevin Kelly, mais um utópico do Vale do Silício, quer a completa extinção do livro - bem como dos direitos de propriedade intelectual de escritores e editores."

pág 60 "O que a web 2.0 nos dá é uma cultura infinitamente fragmentada em que ficamos irremediavelmente desorientados, sem saber como concentrar nossa atenção e despender nosso tempo limitado. E essa cultura do amador vai muito além de livros e música."

pág 63 "Para se tornar um médico, um advogado, um músico, um jornalista ou um engenheiro é preciso fazer um investimento significativo da própria vida em educação e treinamento, inúmeras audições ou exames de ingresso e certificação, além de assumir o compromisso com uma carreira de trabalho árduo e cargas horárias pesadas. (..) Pode o culto à figura do nobre amador realmente esperar contornar tudo isso e fazer um trabalho melhor?"

pág 64 "No fluxo infindável de conteúdo não filtrado, gerado pelo usuário do mundo digital, as coisas de fato muitas vezes não são o que parecem. Sem editores, verificadores de fatos, administradores ou reguladores para monitorar o que está sendo postado, não temos ninguém para atestar a confiabilidade ou a credibilidade do conteúdo que lemos e vemos em sites..."

pág 67 "O problema é que a natureza viral não editada do YouTube permite a qualquer pessoa - de neonazistas a publicitários ou membros de staffs de campanha - postar anonimamente vídeos enganosos, fraudulentos, manipuladores ou fora de contexto."

pág 72 "Na mídia tradicional, leis contra a calúnia e a difamação protegem as pessoas desses tipos de assassinatos perversos da reputação. Mas, em parte por causa do anonimato e da informalidade da maioria das postagens na web, tem sido difícil aplicar essas leis ao mundo digital."

pág 73 "Os proprietários dos jornais tradicionais e de redes noticiosas são considerados legalmente responsáveis pelas afirmações de seus repórteres, âncoras e colunistas, o que os estimula a preservar certo padrão de veracidade no conteúdo que veiculam em seus jornais ou em suas emissoras. Os proprietários de sites, por outro lado, não são responsáveis pelo que é postado por um terceiro. Alguns dizem que isso é uma proteção à livre manifestação do pensamento. Mas a que custo? Enquanto não forem considerados responsáveis, os proprietários de sites e blogs têm pouco estímulo ou incentivo para questionar ou avaliar a informação que publicam."

pág 74 "Antes da web 2.0, nossa história intelectual coletiva foi conduzida pela cuidadosa agregação de verdades - através de livros profissionalmente editados e materiais de referência, jornais, rádio e televisão. Mas quando toda a informação se torna digitalizada e democratizada, e é tornada universal e permanentemente disponível, a mídia de registro transforma-se numa internet em que a falsa informação nunca desaparece. Em consequência, nosso banco de informações coletadas fica infectado por erros e fraudes. Os blogs estão conectados através de um único link, ou séries de links, a inúmeros outros blogs, e as páginas de MySpace estão conectadas a inúmeras outras páginas de MySpace, que se conectam a inúmeros vídeos do YouTube, verbetes da Wikipédia e sites da web com diferentes origens e finalidades. É impossível deter a difusão da informação falsa, muito menos identificar sua fonte. Futuros leitores muitas vezes herdam e repetem essa informação falsa, agravando o problema e criando uma memória coletiva profundamente defeituosa."

pág 90 "No mundo da web 2.0, as massas tornaram-se a autoridade que determina o que é e o que não é verdadeiro. Mecanismos de busca como Google, (...), respondem a nossas indagações não com o que é mais verdadeiro ou mais confiável, mas simplesmente com o que é mais popular."

pág 91 "O problema, porém, é que a geração da web 2.0 está tomando os resultados dos mecanismos de busca como verdades inquestionávies."

pág 92 "Quando nossas intenções individuais ficam na dependência da sabedoria das massas, nosso acesso à informação é restringido e, em consequência, nossa visão do mundo e nossa percepção da verdade ficam perigosamente distorcidas."

pág 110 "Em qualquer profissão, quando não há incentivo ou recompensa monetária, o trabalho criativo estaca. Como Dickens, um dos pioneiros a pressionar ativamente o Congresso em prol da proteção aos direitos autorais, observou com pertinência, a literatura americana só poderia florescer se os editores americanos fossem obrigados por lei a pagar aos escritores o que lhe era devido; permitir aos editores publicar as obras de autores estrangeiros gratuitamente só desencorajaria a produção literária."

pág 112 "Mas as consequências econômicas da revolução da web 2.0 vão muito além de livros e música apenas. Graças a produtos pirateados, notícias gratuitas nos blogs, rádio gratuito fornecido pelos podcasters, e classificados gratuitos na Craigslist, nossa indústrias de mídia e fornecedores de contaúdo de todos os tipos - rádio, televisão, jornal, as empresas de cinema - estão em declínio."

pág 116 "(...) milhares de outras livrarias queridas por toda a parte nos Estados Unidos que foram forçadas a fechar as portas por causa da e-competição feita pela internet, com seus preços reduzidos. Segundo números levantados pelo New York Times, 2.500 livrarias independentes desapareceram desde 1990."

pág 117 "Mas será que o fechamento de lojas independentes resulta em mais escolha para os consumidores? Em vez de 2.500 livrarias independentes, com seus vendedores bem informados, amantes dos livros, seções especializadas e relações com escritores locais, temos agora uma oligarquia de megalojas online empregando algoritmos desalmados, que usam nossas compras anteriores e as compras de outros para nos dizer o que queremos comprar."

pág 127 "Caso os jornais e a televisão tradicionais falissem, onde os sites de notícias online obteriam seu conteúdo?"

pág 128 "Revelador é o fato de que, em contraste com companhias como a Time Warner ou a Disney, que criam e produzem filmes, música, revistas e televisão, o Google é um parasita; não cria nenhum conteúdo próprio. Sua única realização é ter descoberto um algoritmo que estabelece links entre conteúdo preexistente e outros conteúdos preexistentes na internet e cobrar dos anunciantes cada vez que um desses link é clicad0. Em termos de criação de valor, não há nada ali afora seus links."

pág 135 "A colagem, remixagem, combinação, empréstimo, cópia - o furto - da propriedade intelectual tornou-se a atividade isolada mais disseminada na internet. E está transformando e distorcendo nossos valores e nossa própria cultura."

pág 135-6 "O problema não se resume a filmes e músicas pirateados. Trata-se agora de uma incerteza mais ampla sobre quem possui o quê numa era em que qualquer pessoa, com o clique de um mouse, pode recortar e colar conteúdo e apropriar-se dele. A tecnologia da web 2.0 está confundindo o próprio conceito de propriedade, criando uma geração de plagiadores e ladrões de direitos autorais com pouco respeito pela propriedade intelectual. Além de músicas ou filmes, eles estão furtando artigos, fotografias, cartas, pesquisas, vídeos, jingles, personagens e praticamente qualquer outra coisa que possa ser digitalizada e copiada eletronicamente. Nossos filhos estão baixando e usando essa propriedade furtada para avançar por meio da trapaça na escola e na universidade, apresentando as palavras e a obra de outros como suas em trabalhos, projetos e teses."

pág 137 "Lawrence Lessing, professor de direito da Universidade de Stanford, afirma que o `compartilhamento legal` e a `reutilização` de propriedade intelectual é um benefício social. (...) O que ele não reconhece é que a maior parte do conteúdo que está sendo compartilhado (...) foi composto ou escrito por alguém com o suor de seu trabalho criativo e o uso disciplinado de seu talento."


pág 137-8 "O fato é que cooptar o trabalho criativo de outras pessoas - seja compartilhando arquivos, baixando filmes e vídeos ou apresentando o escrito de outros como seu - é não somente ilegal, na maioria dos casos, como imoral. No entanto, a aceitação generalizada desse comportamento ameaça solapar uma sociedade construída com trabalho árduo, inovação e a realização intelectual de nossos escritores, cientistas, artistas, compositores, músicos, jornalistas, críticos e cineastas."

pág 162 "Mais chocante que a quantidade de informação roubada na web, sob muitos aspectos, é a quantidade de informação privada permutada legalmente a cada dia. (...) No mundo da web 2.0, onde cororações e agências governamentais têm fácil acesso a cada uma dessas buscas, o direito à privacidade está se tornando uma noção antiquada."

pág 162-3 "O Google, o Yahoo! e a AOL, que não têm nenhuma responsabilidade legal de eliminar dados antigos, mantêm registros dos assuntos que pesquisamos, dos produtos que compramos e dos sites que visitamos. Esses mecanismos de busca querem nos conhecer intimamente, querem ser nossos confidentes mais chegados. Afinal, quanto mais informação possuem sobre nós - nossos hobbies, nossos gostos e nossos desejos - , mais informação podem vender aos anunciantes e negociantes, permitindo-lhe melhor personalizar seus produtos, anúncios e abordagens. Mas nossa informação não é distribuída apenas a anunciantes. Todo mundo, de hackers e ciberladrões a funcionários estaduais e federais, pode potencialmente descobrir qualquer coisa, do último ingresso de cinema que compramos aos remédios sob prescrição que tomamos, passando pelo saldo de nossa conta de poupança."

pág 163 "Mas como o Google e a AOL adquirem toda essa informação detalhada? Através dos inocentemente chamados `cookies` - pequeninos pacotes de dados implantados em nosso navegador da internet que estabelecem um número de identidade único de nosso disco rígido e permitem a sites da web reunir registros precisos de tudo que fazemos online. Esses pacotes de dados representam um pacto faustiano que fazemos com o demônio da internet. Cada vez que chegamos a uma página da web, um cookie é ativado, dizendo àquele site quem o está visitando. Os cookies transformam nossos hábitos em dados. Eles são minas de ouro para negociantes e anunciantes. Registram nossos sites preferidos, lembram as informações de nosso cartão de crédito, armazenam o que pomos nas nossas sacolas de compras eletrônicas e anotam em que anúncios de banner clicamos."

pág 164 "Essa compilação de informação pessoal não se limita apenas aos mecanismos de busca da internet. (...) a Amazon.com (...) não quer possuir apenas nossa experiência de compras online, quer ter o comprador online - transformando cada um de nós em mais um ponto num banco de dados infinito a serviço do e-comércio.
Sir Francis Bacon, o pai elisabetano da ciência indutiva, escreveu, de forma otimista, que `conhecimento é poder`. Mas em nossa era digital contemporânea é a informação, não o conhecimento, que proporciona poder."

pág 167 "(...) a revolução da web 2.0 está apagando as linhas entre público e privado."


Andrew Keen também apresenta algumas possíveis soluções. Então o que pode ser feito?

pág 173 "Nosso desafio é, antes, proteger o legado de nossa mídia convencional e 200 anos de proteção aos direitoa autorais dentro do contexto da tecnologia digital do século XXI. Nossa meta deveria ser preservar nossa cultura e nossos valores, ao mesmo tempo em que desfrutamos os benefícios das potencialidades da internet de hoje. Precisamos encontrar uma maneira de equilibrara o melhor do futuro digital sem destruir as instituições do passado."

pág 174 Larry Sanger "compreendeu que o problema da Wikipédia estava em sua implementação, não em sua tecnologia. Assm, desligou-se do projeto e reconsiderou como se poderia conciliar a voz e a autoridade de especialistas com o conteúdo gerado pelo usuário. E voltou com uma solução que combinava o melhor da velha e da nova mídia. Chamou-a de Citizendium." (compêndio de tudo dos cidadãos).

pág 175 "O que há de mais inovador no Citizendium é que ele reconhece o fato de que algumas pessoas sabem mais que outras sobre certas coisas - que o professor de inglês de Harvard sabe realmente mais sobre literatura e sua evolução que um garoto do ensino médio."

pág 175 "Larry Sanger não foi o único pioneiro da web 2.0 que acabou se dando conta da inferioridade do conteúdo amador. Niklas Zennstrom e Janus Friis, os fundadores do serviço original de compartilhamento de arquivos Kazza, bem como da companhia telefônica online Skype, lançaram o Joost, uma nova iniciativa de mídia digital para um mundo em que a internet e a televisão estão convergindo rapidamente."

pág 176 "Diferentemente de serviços de conteúdo gerado pelo usuário como o YouTube, plataformas como Joost e Brightcove conservam a divisão crucial entre criadores e consumidores de conteúdo. (...) Isso me dá esperança de que a tecnologia da web 2.0 possa ser usada para fortalecer a autoridade do especialista, não para eclipsá-la, de que a revolução digital possa iniciar uma era em que a autoridade do especialista seja fortalecida."

pág 176-7 "Desse modo, o futuro será iAmplify ou MySpace? Será YouTube ou Joost? Wikipédia ou Citizendium? A questão é ideológica, não técnica, (negrito meu) e a resposta depende em grande medida de nós. Podemos - e devemos - resistir ao canto de sereia do nobre amador e usar a web 2.0 para depositar confiança novamente em nossos especialistas."

pág 190 "Mas a tecnologia não cria o gênio humano. Apenas fornece novos instrumentos de auto-expressão."

Bom, mesmo com este resumo, ainda tem muita coisa que merece ser lida no livro. Boa leitura e divirtam-se também.

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