Sexta-feira, 17 de julho de 1959, 50 anos atrás, às três horas da madrugada, morria Billie Holiday. Nascida de um casal de crianças - o pai tinha 15 anos e a mãe 13 - em Baltimore em 07 de Abril de 1915, foi batizada Eleanora, mas ficou conhecida como Lady Day, apelido dado pelo amigo e saxofonista Lester Young.
Lady Day teve seu gosto musical formado quando ainda era menina. "Andando de bicicleta ou lavando o chão nojento de um banheiro, eu cantava o tempo todo. Gostava de música. Se havia um lugar onde pudesse ouvir música, eu ia até lá." pág 12
Uma vitrola era um negócio e tanto naqueles dias e, nas redondezas, só o bordel de Alice Dean tinha uma; passou a trabalhar lá como faxineira. "Quando chegava a hora de me pagar, eu dizia a ela [Alice] para ficar com o dinheiro se me deixasse ir até a sala de visitas e ouvir Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola. [...] Lembro-me da gravação de 'West End Blues' por Louis e de como ela mexia comigo. [...] Às vezes o disco me deixava tão triste que eu chorava horrores. Outras vezes, o mesmo disco desgraçado me deixava tão feliz que me esquecia do dinheiro tão duramente ganho que me custava aquela audição na sala de visitas." pág 13
Billie Holiday teve uma infância muito sofrida; trabalhou de faxineira; criada; quase estuprada aos 10 anos, não escapou de o ser aos 12 anos; prostituta aos 15; foi presa injustamente e cumpriu 4 meses de detenção.
Em 1930, em plena Depressão, morava com a mãe no Harlem, na Rua 139. "Decidi dar um basta à vida de prostituta. Mas decidi também que não ia ser criada de ninguém. [...] Eu estava com uns 15 anos, então, mas parecia ter idade suficiente para votar." pág 36
O começo da cantora Billie Holiday:
"Um dia, quando o aluguel já tinha vencido, ela [minha mãe] recebeu uma notificação de que a justiça iria nos despejar. Estávamos no meio do inverno e ela [doente] não podia sequer caminhar. [...] Fazia um frio terrível naquela noite [véspera do despejo], e eu saí à rua sem nenhum agasalho.
Desci a Sétima Avenida da Rua 139 à Rua 133, invadindo cada espelunca e tentando descolar um emprego. Naqueles dias a Rua 133 era a verdadeira área do agito [...]. Estava cheia de clubes que ficavam abertos até o fim da madrugada, boates com horários regulares, restaurantes, cafés, uma dúzia por quarteirão.
Finalmente, quando cheguei ao Pod´s and Jerry´s estava desesperada. Fui entrando e perguntando pelo dono. Disse que era dançarina e queria mostrar meus dotes. Eu conhecia apenas dois passos. [...]
Iam me puxar pelas orelhas e jogar na rua, mas eu continuava implorando pelo emprego. Finalmente o pianista sentiu pena de mim e disse:
-Garota, você sabe cantar?
-Claro que sei cantar, mas de que adianta isso?
Eu tinha cantado a vida inteira [só tinha 15 anos], mas sentia prazer demais naquilo para achar que pudesse ganhar dinheiro de verdade cantando. [...]
Pedi ao pianista que tocasse 'Travellin´all alone'. Era o que mais se aproximava do meu estado de espírito. E devo ter transmitido uma parte daquilo à plateia. A boate inteira ficou em silêncio. Se alguém deixasse cair um alfinete, soaria como uma bomba. Quando terminei, todo mundo estava chorando no copo de cerveja. [...] Quando deixei a boate naquela noite dividi a féria com o pianista e ainda levei para casa 57 dólares [precisava de 45 para o aluguel]." págs 37-8
Passou a ter um emprego fixo como cantora a 18 dólares por semana.
Billie Holiday é certamente um dos mitos mais trágicos e sublimes de sua época. Enfrentou o racismo, a pobreza e a brutalidade das prisões para se tornar uma das maiores cantoras de jazz de todos os tempos. Gravou discos, fez filmes, frequentou programas de rádio e televisão, sem jamais ter conseguido receber os direitos autorais de suas músicas e de suas gravações.
A grande dama do jazz morreu pobre, viciada em heroína e já praticamente sem voz. No velório Lady Day trajava o seu vestido de palco favorito, cor-de-rosa rendado com luvas longas.
Lady Day teve seu gosto musical formado quando ainda era menina. "Andando de bicicleta ou lavando o chão nojento de um banheiro, eu cantava o tempo todo. Gostava de música. Se havia um lugar onde pudesse ouvir música, eu ia até lá." pág 12
Uma vitrola era um negócio e tanto naqueles dias e, nas redondezas, só o bordel de Alice Dean tinha uma; passou a trabalhar lá como faxineira. "Quando chegava a hora de me pagar, eu dizia a ela [Alice] para ficar com o dinheiro se me deixasse ir até a sala de visitas e ouvir Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola. [...] Lembro-me da gravação de 'West End Blues' por Louis e de como ela mexia comigo. [...] Às vezes o disco me deixava tão triste que eu chorava horrores. Outras vezes, o mesmo disco desgraçado me deixava tão feliz que me esquecia do dinheiro tão duramente ganho que me custava aquela audição na sala de visitas." pág 13
Billie Holiday teve uma infância muito sofrida; trabalhou de faxineira; criada; quase estuprada aos 10 anos, não escapou de o ser aos 12 anos; prostituta aos 15; foi presa injustamente e cumpriu 4 meses de detenção.
Em 1930, em plena Depressão, morava com a mãe no Harlem, na Rua 139. "Decidi dar um basta à vida de prostituta. Mas decidi também que não ia ser criada de ninguém. [...] Eu estava com uns 15 anos, então, mas parecia ter idade suficiente para votar." pág 36
O começo da cantora Billie Holiday:
"Um dia, quando o aluguel já tinha vencido, ela [minha mãe] recebeu uma notificação de que a justiça iria nos despejar. Estávamos no meio do inverno e ela [doente] não podia sequer caminhar. [...] Fazia um frio terrível naquela noite [véspera do despejo], e eu saí à rua sem nenhum agasalho.
Desci a Sétima Avenida da Rua 139 à Rua 133, invadindo cada espelunca e tentando descolar um emprego. Naqueles dias a Rua 133 era a verdadeira área do agito [...]. Estava cheia de clubes que ficavam abertos até o fim da madrugada, boates com horários regulares, restaurantes, cafés, uma dúzia por quarteirão.
Finalmente, quando cheguei ao Pod´s and Jerry´s estava desesperada. Fui entrando e perguntando pelo dono. Disse que era dançarina e queria mostrar meus dotes. Eu conhecia apenas dois passos. [...]
Iam me puxar pelas orelhas e jogar na rua, mas eu continuava implorando pelo emprego. Finalmente o pianista sentiu pena de mim e disse:
-Garota, você sabe cantar?
-Claro que sei cantar, mas de que adianta isso?
Eu tinha cantado a vida inteira [só tinha 15 anos], mas sentia prazer demais naquilo para achar que pudesse ganhar dinheiro de verdade cantando. [...]
Pedi ao pianista que tocasse 'Travellin´all alone'. Era o que mais se aproximava do meu estado de espírito. E devo ter transmitido uma parte daquilo à plateia. A boate inteira ficou em silêncio. Se alguém deixasse cair um alfinete, soaria como uma bomba. Quando terminei, todo mundo estava chorando no copo de cerveja. [...] Quando deixei a boate naquela noite dividi a féria com o pianista e ainda levei para casa 57 dólares [precisava de 45 para o aluguel]." págs 37-8
Passou a ter um emprego fixo como cantora a 18 dólares por semana.
Billie Holiday é certamente um dos mitos mais trágicos e sublimes de sua época. Enfrentou o racismo, a pobreza e a brutalidade das prisões para se tornar uma das maiores cantoras de jazz de todos os tempos. Gravou discos, fez filmes, frequentou programas de rádio e televisão, sem jamais ter conseguido receber os direitos autorais de suas músicas e de suas gravações.
A grande dama do jazz morreu pobre, viciada em heroína e já praticamente sem voz. No velório Lady Day trajava o seu vestido de palco favorito, cor-de-rosa rendado com luvas longas.
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