A economia de um país é formada
por cadeias produtivas. As cadeias são constituídas por setores. No caso do
livro, os setores são os seguintes: autoral, editorial, gráfico, produtor de
papel, produtor de máquinas gráficas, distribuidor, atacadista, livreiro,
bibliotecário. A interface entre firmas/empresas de pelo menos dois desses
setores forma um mercado. O senso comum para mercado do
livro é constituído pelos setores editorial e livreiro, intermediado ou não
pelo setor distribuidor.
Característica importante deste
mercado é a falta de dados atualizados e com elevado grau de confiabilidade
sobre produção, venda e consumo do livro. Desde 1991 a CBL (Câmara Brasileira
do Livro) e o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) patrocinam a
pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro. A partir de 2007 a
FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) da USP foi contratada e é a
responsável pela pesquisa.
Entre novembro de 2010 e abril de
2011 a FIPE realizou a pesquisa O Censo do Livro (dados referentes a 2009). Seguem
alguns números: existem no Brasil 498 editoras. A definição de editora é a da
UNESCO: edição de pelo menos 5 títulos no ano e produção de 5 mil exemplares.
Com relação ao faturamento anual,
temos a seguinte divisão:
231 editoras com faturamento
anual até R$ 1 milhão (46,39%);
189 editoras com faturamento
anual entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões (37,95%);
62 editoras com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões
(12,45%);
16 editoras com faturamento anual
acima de R$ 50 milhões (3,21%).
Portanto, são essas editoras que
disputam o mercado editorial brasileiro, que vem crescendo a cada ano. Em 2009,
o valor total recebido pelas editoras foi de 4,16 bilhões de reais e, em 2010,
aumentou para 4,50 bilhões de reais. Crescimento
de 8,12%. Uma das explicações visíveis para este crescimento é que o valor
médio recebido pelas editoras vem caindo desde 2004. O acumulado está em 34%. O
valor médio recebido em 2009 foi de R$ 13,61 e em 2010 foi de R$ 12,94. Portanto,
chega-se a um preço de capa médio de R$ 27,22 e R$ 25,88 respectivamente. O livro está com o preço ao consumidor, ao leitor, mais baixo a cada ano.
Esse faturamento tem origem nas
vendas para mercado e nas vendas para governo.
Mercado em 2009: 3,25 bilhões de
reais (78%);
Mercado em 2010: 3,34 bilhões de
reais (74,31%). Crescimento de 2,99%.
Governo em 2009: 916 milhões de
reais (22%);
Governo em 2010: 1,15 bilhões de
reais (25,69%). Crescimento de 26,32%.
Mas, o que representa o mercado
do livro na economia do país? Os números do PIB são a melhor comparação. O PIB
brasileiro em 2009 foi de 3,143 trilhões de reais. Como o mercado do livro foi
de 4,16 bilhões de reais, este nosso mercado representou 0,13% do PIB. Para
2010 os números foram: PIB 3,675 trilhões de reais. Mercado do livro de 4,50
bilhões de reais, o que representou 0,12%
do PIB.
Outro dado interessante é a
relação livro/habitante. A população do Brasil em 2010 era de 190.755.799
habitantes. Nesse mesmo ano foram vendidos, somente para mercado, 258.697.092
exemplares. Portanto, tem-se a média de 1,36
livro comprado por habitante. Há muito para crescer.
A metodologia da pesquisa divide
o mercado em quatro grandes segmentos:
Didáticos
Obras Gerais
Religiosos
CTP – científicos, técnicos e
profissionais
Considerando o faturamento total (mercado
+ governo), temos os seguintes dados:
Segmento
|
2009 fat R$
|
2010 fat R$
|
2009 exs
|
2010 exs
|
Didáticos
|
43,09%
|
46,65%
|
45,35%
|
46,27%
|
Obras Gerais
|
29,93%
|
25,92%
|
31,74%
|
30,88%
|
Religiosos
|
9,66%
|
11,02%
|
16,31%
|
16,92%
|
CTP
|
17,32%
|
16,41%
|
6,59%
|
5,93%
|
Outra característica do mercado é
com relação ao número de lançamentos anuais, isto é, títulos em 1ª edição. Em
2009 foram 17.183 títulos e, em 2010, 18.712 títulos. Crescimento de 8,90%.
O ano tem 365 dias; excluindo-se
104 dias (sáb e dom) e 12 dias de feriados nacionais, sobram 249 dias. Se
dividirmos o número de lançamentos por esses 249 dias temos a média de 69 novos
títulos/dia em 2009, que aumenta para 75
novos títulos/dia em 2010. Livros demais?
Toda essa produção é
comercializada através dos seguintes canais, cuja representatividade é:
Ano 2009
|
Canal de comercialização
|
Ano 2010
|
42,44%
|
Livrarias físicas + seu braço
e-commerce
|
40,51%
|
23,78%
|
Distribuidores
|
22,55%
|
16,64%
|
Porta-a-porta
|
21,66%
|
|
|
|
82,86%
|
Sub-total
|
84,72%
|
|
|
|
|
|
|
2,91%
|
Supermercado
|
1,47%
|
2,32%
|
Igrejas e templos
|
1,26%
|
1,68%
|
Escolas e colégios
|
1,43%
|
1,41%
|
Editoras direto por e-commerce
|
1,54%
|
8,82%
|
outros
|
9,58%
|
O mercado do livro também
acompanha uma das características da economia mundial: a concentração por meio
de aquisições, fusões e joint-ventures. No Brasil começou pelas editoras, tanto
nacionais quanto estrangeiras. (Não tenho como garantir que o levantamento abaixo é 100% preciso, mas é próximo disso. A quem tiver mais informações, agradeço que possam compartilhar).
A Guanabara Koogan (criada em 1932) começou as compras:
1994 a LTC (criada em 1968)
2007 a Forense (criada em 1904)
2007 a Método (criada em 1996)
2008 a Santos (criada em 1981)
2010 a Forense Universitária
(criada em 1973)
2011 a EPU (criada em 1952)
2011 a Roca
2011 a AC Farmacêutica (criada em
2005)
Todas essas editoras estão sob a
holding GEN – Grupo Editorial Nacional criado em 2007.
A Record (criada em 1942) também foi às compras e fez as seguintes:
1997 a Bertrand Brasil
1997 a Civilização Brasileira
1997 a Difel
2001 a José Olympio
2004 a Best-Seller
2005 joint-venture com a
canadense Harlequim Books
2010 a Verus
A Saraiva comprou:
1998 a Atual
2000 a Renascer
2001 a Solução
2003 a Formato
2008 a ARX
2008 a ARX Jovem
2008 a Futura
2008 a Caramelo
A Ediouro comprou:
2002 a Agir
2004 a Relume-Dumará
2005 e 2007 a Nova Fronteira
2006 parceria com a Thomas Nelson
2007 a Nova Aguilar
2008 a Desiderata
A Sextante comprou:
2007 a Intrínseca (50%)
A Artmed
comprou:
2009 a McGrae-Hill Education no Brasil
A IBEP/Companhia Editora Nacional comprou:
2010 a Conrad
Com relação às editoras
estrangeiras, temos a seguinte cronologia:
Em 1976 a Elsevier (Holanda) entra no mercado nacional em parceria com a
Campus. Suas compras foram as seguintes:
2002 a Alegro
2002 a Negócio
2005 a Impetus
Grupo Pearson (Inglaterra) entrou no mercado em 1996 e comprou a Makron
Books no ano 2000.
Grupo Vivendi (França), em parceria com o grupo Abril comprou a Ática e a Scipione em 1999. Saiu do Brasil em 2004
e a Abril comprou a sua parte.
Grupo Prisa-Santillana (Espanha) entrou no mercado em 2001 com a compra da
Moderna e da Salamandra. Em 2005 comprou 75% da Objetiva.
A Larousse (França) chegou em 2003 e, em 2007, comprou a Escala.
Grupo Planeta (Espanha) chegou em 2003. Em 2006 comprou a Academia da
Inteligência.
Edições SM (Espanha) chegou em 2004.
Almedina (Portugal) chegou em 2005.
Penguin Books (USA) em 2005 fez uma joint-venture com a Companhia
das Letras e, em 2011, comprou 45% do capital dessa editora.
Grupo Leya (Portugal) chegou em 2009. Em 2010 fez uma parceria com a Barba
Negra. Em 2011 comprou a Casa da Palavra.
Thomson Reuters (USA) em
2010 comprou a editora Revista dos Tribunais.
Babel (Portugal) chegou em 2011.
A outra ponta da concentração
está no setor livreiro. O marco divisório aconteceu em 2008 quando a Saraiva
comprou o grupo Siciliano. Atualmente as principais redes de livrarias, com
foco em obras gerais, são:
100 lojas, a Saraiva. Base São
Paulo. Dessas, 46 são megastores. As outras 54 lojas (54%) representam apenas
14% de seu faturamento anual;
32 lojas, a Leitura. Base Minas
Gerais;
20 lojas, a Livrarias Curitiba.
Base Paraná;
13 lojas, a Cultura. Base São
Paulo (abrirá mais 4 lojas ainda em 2012);
11 lojas, a Fnac. Base São Paulo;
7 lojas, a Travessa. Base Rio de
Janeiro;
6 lojas, a Livraria da Vila. Base
São Paulo (abrirá duas lojas em 2012 e mais 2 em 2013).
Esta concentração nas livrarias
de rede também é facilitada pela migração do comércio em geral para os
shoppings que, como têm um custo elevado para a manutenção de uma loja, viram uma barreira de acesso para as livrarias como menor capital. No ano 2000
o Brasil tinha 280 shoppings. Fechou 2011 com 430 shoppings (+ 53,57%). Em 2012
serão mais 43 e, por enquanto, estão previstos mais 31 para 2013. Para se ter uma
ideia da força deste novo local de consumo, de compras, circulam nos shoppings
376 milhões de pessoas por mês. A população do Brasil é de 191 milhões de
pessoas. Impressiona, não?
Não existe uma pesquisa confiável
com relação ao número de livrarias existentes no Brasil. A ANL – Associação
Nacional de Livrarias fez em 2009 um primeiro levantamento através de
questionários enviados a diversos pontos de venda de livros, e chegou ao número
de 2.980 “livrarias”. Livraria para a
ANL é “uma empresa que oferece um bom acervo de livros em seu mix de produtos
para venda.” Portanto, essa definição é muito vaga em relação ao censo
comum de livraria. Talvez fosse melhor usar como parâmetro o número de
exemplares no acervo de cada “livraria”. Por exemplo, acervo mínimo de 10% da
produção anual de novos títulos em 1ª edição, o que, em relação à produção das
editoras em 2010, seria de 1.871 exemplares por loja.
No levantamento de 2011 da ANL o
número de livrarias chegou a 3.481. Como o país tem 5.564 municípios, além do
Distrito Federal, teríamos a média de 0,63 livrarias por município. É
claro que a distribuição dessas livrarias pelo território brasileiro acompanha
a economia e a escolaridade de cada região geográfica. Os dados são os
seguintes:
52,54% das livrarias na região
Sudeste;
21,00% das livrarias na região
Sul;
16,83% das livrarias na região
Nordeste;
6,18% das livrarias na região
Centro-Oeste;
3,45% das livrarias na região
Norte;
A concentração nos diversos setores da economia do livro avança e fica maior a cada ano. Onde os livros serão vendidos em 2015?
A concentração nos diversos setores da economia do livro avança e fica maior a cada ano. Onde os livros serão vendidos em 2015?
3 comentários:
Vou passar o link do meu TCC que critica essa concentração de livrarias em pequenos pontos, ao invés de multiplicar o acesso do livro, barateando, faz-se o oposto: concentra-se a distribuição em poucos lugares e aumenta a concorrência pelos espaços nas livrarias.
Como não se expande os pontos de acesso direto com o público, acaba-se desincentivando as grandes tiragens, pois não há espaços para grandes tiragens, correndo o risco de se apostar em grandes tiragens e ter encalhe.
Com um acesso restrito para contato direto acaba por aumentar o preço do livro.
Na verdade a Larousse (França) fez uma parceria com a Escala para o lançamento da Larousse Brasil. a sociedade foi desfeita no ano passado, e a Escala mudou o nome do selo para Lafonte.
Olá Anônimo, obrigado pelo comentário. Você tem mais informações sobre a parceria Larousse/Escala?
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