Com a divulgação em 15 de Maio de
2012 por parte da Associação Nacional de Livrarias, a ANL, do Levantamento Anual do Segmento de Livrarias
feito junto a suas associadas para identificar o comportamento do setor
livreiro em 2011, veio à tona, mais uma vez, a questão da “Lei do Preço Único
do Livro”, dos descontos concedidos nos lançamentos, da concentração do mercado
e do fechamento das pequenas livrarias.
Mais uma vez a tábua de salvação
mencionada nas entrevistas é a “Lei do Preço Único do Livro”. O que é isso? De
forma resumida, é o seguinte: durante um determinado período de tempo após o
lançamento de um livro (seis meses ou um ano, por exemplo) não poderiam ser
concedidos descontos na venda desse livro para o consumidor final, o leitor. No
máximo, algo entre 5% e 10%.
Alguns pontos a serem observados:
isso é legal, do ponto de vista da Lei? O que o consumidor final, o leitor, vai
achar de não poder comprar mais esses livros com desconto?
Pesquisando na Lei maior, a
Constituição, o Título VII trata da Ordem Econômica e Financeira e o capítulo 1
dos Princípios Gerais da Atividade Econômica. A seguir vem o artigo 170 que dispõe
o seguinte:
“A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, (...), observando os
seguintes princípios:
(...)
IV – livre concorrência
V – defesa do consumidor
Pesquisando um pouco mais cheguei
ao CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que pela Lei 8.884 de
11/06/1994 foi transformado em Autarquia. Essa Lei é conhecida como Lei antitruste
e Lei antidumping. Seu artigo inicial diz o seguinte: “Art. 1º
Esta lei dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem
econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função
social da propriedade, defesa dos
consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.” (grifos meus)
Segue a
definição do conceito de livre concorrência exposto na página do CADE:
“Livre
concorrência
O princípio da livre
concorrência está previsto na Constituição Federal, em seu artigo 170, inciso
IV e baseia-se no pressuposto de que a concorrência não pode ser restringida
por agentes econômicos com poder de mercado. Em um mercado em que há
concorrência entre os produtores de um bem ou serviço, os preços praticados
tendem a se manter nos menores níveis possíveis e as empresas devem
constantemente buscar formas de se tornarem mais eficientes, a fim de
aumentarem seus lucros. Na medida em que tais ganhos de eficiência são
conquistados e difundidos entre os produtores, ocorre uma readequação dos
preços que beneficia o consumidor. Assim, a livre concorrência garante, de um
lado, os menores preços para os consumidores e, de outro, o estímulo à
criatividade e inovação das empresas. “
Apesar de
leigo em Direito, entendo que é contra a Constituição a existência de uma lei
que proíba descontos e que, portanto, também iria contra o interesse do
consumidor que é o de obter, sempre, o menor preço em qualquer aquisição.
A grande
questão é que o mercado do livro, no que diz respeito à comercialização, mudou.
Em 1455 Gutenberg comercializou o primeiro livro impresso com tipos móveis de
metal no Ocidente, a Bíblia. Depois, na prática, estabeleceu-se que o editor
publica o livro e o distribuidor e as livrarias formaram uma cadeia de
distribuição para a venda do livro para o leitor. Essa estrutura permaneceu por
muito e muito tempo, até que, 540 anos depois, em 1995 a Amazon começou a venda
de livros pela internet. No Brasil, também em 1995 (setembro), a Livraria
Cultura foi a primeira a perceber que mudanças estavam no ar e começou sua operação
nesse novo canal. Esse foi o primeiro marco divisório, a grande quebra de
paradigma; o segundo será o “livro digital” e, mais em particular, sua
comercialização, mas isso fica para outro post.
O mercado do livro também acompanha
uma das características da economia mundial: a concentração por meio de fusões,
aquisições e joint-ventures. No Brasil, o processo de concentração consolida-se
em 2008, quando a Saraiva comprou a Siciliano. Com esse fato, outras livrarias
como Cultura, Fnac, Travessa, Vila, Curitiba, Leitura etc, que já vinham
abrindo lojas, tiverem que acelerar o ritmo.
Concomitante a isso, mas tendo início
lá no final do séc xx, o comércio em geral começou o processo de migração para os
shoppings. Como são espaços comerciais que têm custos maiores, isso contribui,
mais ainda, para o processo de concentração. No ano 2000 existiam no Brasil 280
shoppings. Em 2011 já eram 430 (crescimento de 53,57%). Neste ano de 2012 devem
ser inaugurados mais 43 e outros 31 já estão previstos para 2013. Circulam por
mês, em média, em todos estes shoppings 376 milhões de pessoas. A população do
país é de 191 milhões de pessoas. Portanto, grande parte do público comprador
circula nos shoppings e, é claro, compra nos shoppings. As livrarias que lá não
estão, principalmente as menores, vão perdendo faturamento a cada ano, salvo
raras exceções.
É um cenário assustador para as
pequenas livrarias? É sim. Estão sendo pegas de surpresa? Entendo que não, pois
lá se vão mais de 15 anos quando os sinais e os exemplos de novas formas de
comercialização do livro começaram a aparecer. Na verdade não foram se
preparando e não investiram em atendimento, serviços e, principalmente, na
internet, no e-commerce. Eu mesmo venho escrevendo aqui sobre a importância do
e-commerce para o mercado do livro desde 2009.
Ainda existe chance de sobrevivência
para as pequenas livrarias? A resposta é SIM, mas, a cada ano que passa, isso
será mais difícil. E a saída, com certeza, não é uma “intervenção” do governo
para controlar preços finais de venda ao consumidor. As livrarias estão no
mercado de varejo, e varejo é um processo dinâmico. Portanto, não dá mais para
ficar atrás do balcão esperando o cliente entrar na loja. Há que se ir até ele.
O melhor caminho e o mais rápido é pela web.
Um comentário:
Oi Jaime, concordo com o que você disse sobre o pequeno livreiro sair e correr atrás do cliente em outras frentes, mas acredito também que tem de se mudar o preço do livro no Brasil, um país que mal lê pagar R$ 50 ou R$ 60 por um único livro é demais.
Preço único não sei se seria a resposta pra livrarias físicas, mas seria para as de e-commerce como Submarino e Americanas que tem de parar com preços absurdamente baixos como o caso Harry Potter,sem orelha a R$9,90,lembra-se?
Quando eu era representante da Superpedido no interior e litoral vi algumas pequenas livrarias fecharem por causa deles que não tinham como fazer frente à esse tipo de concorrência predatória, coisa que a Cultura não faz, ela ganha o cliente com competência, com a entrega rápida e não com preço baixo.
Abraço.
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