segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Comercialização e Distribuição dos E-Books

Algumas editoras brasileiras começam a entrar na fase dos e-books, do livro digital. Dia 2 de junho de 2010 foi anunciada a criação da Distribuidora de Livros Digitais (DLD), empresa que conta com a participação das editoras Objetiva, Record, Sextante, Rocco e Intrínseca como sócias fundadoras. Nas notícias divulgadas pela imprensa não foi informada a participação societária de cada uma delas.

A editora Zahar, pioneira na comercialização de e-books desde dezembro de 2009 através da Gato Sabido, escolheu outro caminho e vem desenvolvendo uma plataforma para distribuição e comercialização de seus e-books, o Xeriph, que deve entrar em operação no próximo mês.

Do outro lado do Atlântico, há menos de um mês atrás, em 11 de maio de 2010, foi anunciada na Espanha a criação da Libranda, também uma plataforma para a distribuição e comercialização de e-books. A Libranda é constituída pelos grupos Planeta, Santillana, Random House Mondadori, SM, Wolters Kluwer, Ediciones 62 e Roca Editorial.

Na Itália, em maio de 2010 foi criada a plataforma Edigita – Editoria Digitale Italiana, uma associação dos grupos Feltrinelli, Messaggerie Italiane con GeMS e RCS Libri e aberta a todos os editores italianos. Já conta com 40 editoras.

Na França esse processo começou um pouco antes. Em outubro de 2009 foram criados dois grupos para a distribuição e comercialização de e-books: o Eden Livres ("Entreprise de distribution de l'édition numérique"), formado pela Flammarion, Gallimard e La Martinière/Le Seuil, e o Eplateforme, formado por Editis e Média Participations/Michelin. Desde o ano 2000 já existe o Numilog, empresa independente (na sua fundação) aberta a todas as editoras e que oferece serviços de digitalização e conversão dos livros para o formato digital, a proteção dos direitos de autor, além de gerenciar as vendas online dos e-books. Foi comprada em 05 maio de 2008 pela Hachette Livre. Conta com cerca de 60 editoras e já tem disponíveis mais de 57 mil títulos. O Numilog tem venda direta para o consumidor final.

Está previsto para outubro de 2010 a associação, na França, desses três grupos para a criação do portal 1001libraires.com, que vai permitir que livrarias independentes possam ter acesso à venda online de e-books.

Mas, por que toda esta movimentação das editoras para a criação de plataformas para a distribuição e comercialização de e-books? A resposta é simples e óbvia: para poder saber quantos exemplares de e-books serão vendidos. Explicando melhor: na comercialização do livro físico, a editora, ao emitir uma nota fiscal em papel ou agora no formato nota fiscal eletrônica, tem o completo controle de toda a movimentação de seus títulos e exemplares, seja como venda, seja como consignação. A partir deste controle pode prestar contas aos seus autores e organizar o dia-a-dia da editora com relação a recebimentos, pagamentos, investimentos e projetos de curto, médio e longo prazos.

Com o e-book, as editoras não podem simplesmente enviar seus arquivos dos livros para as livrarias, sejam de que tamanho forem, e esperar que a cada 30 dias, a cada semana ou diariamente, elas informem a quantidade de e-books vendidos. Além disso, existe a questão da segurança com relação à reprodução de cópias piratas, que o digital potencializa enormemente. E, como nenhum negócio vai funcionar se o produtor do bem a ser comercializado não tiver o controle das vendas, faz-se necessária, portanto, a criação dessas plataformas de comercialização e distribuição. O funcionamento básico será o seguinte: a livraria disponibiliza no seu site determinado título para venda no formato digital. O cliente interessado clica e faz a compra. Nesse momento, o sistema da livraria vai na plataforma responsável pela distribuição daquele título e baixa, já com a proteção DRM, a quantidade de exemplares de e-books solicitados pelo seu cliente. É feito o registro dessa operação na plataforma e depois, de acordo com as condições comerciais negociadas entre a plataforma distribuidora e a livraria, será feita a cobrança/pagamento da operação.

Mais alguns pontos importantes a destacar:
1-as plataformas Libranda, a Distribuidora de Livros Digitais e o Xeriph têm em comum a posição de não vender direto para o consumidor final. É uma posição fundamental pois, sem livrarias, não é possível existir um mercado do livro, seja ele físico e/ou digital. A concorrência entre livrarias e outros pontos de venda é imprescindível para a independência de linhas editoriais e para o consumidor final, tanto com relação a preço quanto com relação a oferta de títulos;

2-com o e-book as atuais empresas distribuidoras de livros físicos ficarão de fora da comercialização deste produto, assim como as livrarias físicas que não tiverem site para vendas. Isto, certamente, terá impacto na tradicional cadeia de comercialização do livro: editora-distribuidora-livraria, mas ainda é dificil avaliar as consequências.

3-a Distribuidora de Livros Digitais (DLD) vai aceitar adesões de outras editoras a quem prestará os serviços de "hospedagem e logística vitual, garante a proteção contra a pirataria e a qualidade e integridade do processo para toda a cadeia, inclusive para o leitor. Cada editora que utiliza a DLD negocia diretamente com as livrarias on-line suas condições comerciais." Roberto Feith, da Objetiva, em O Globo dia 04.06.2010, Segundo Caderno. É claro que a DLD receberá destas editoras um pagamento pela prestação do serviço.

2 comentários:

Marcello Lopes disse...

Jaime.
Espero que este seja um negócio que dê muitos frutos, o e-book ainda engatinha no mundo livreiro, mas possui enormes vantagens e como você escreveu bem no post abaixo não significa o final do livro ou das editoras.
Grande abraço.

Le Cuisinier. disse...

Jaime,
Lendo o seu post fiquei bastante animado pois, muito mais do que a possibilidade do "fim" dos livros com o suporte tradicional, percebi que existe caminhos excelentes de novos negócios e formas de trabaçhar os processos educativos em nosso país.
Abraços,
Wladmir

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