terça-feira, 28 de abril de 2009

O Livro e seus Suportes: do barro ao digital - parte 1

De todas as invenções já criadas pelo ser humano, e de todas as que ainda estão por vir, creio que a mais importante ou, pelo menos, a basilar, foi e será a invenção da escrita. E por quê? Porque a escrita possibilitou que o conhecimento deixasse de morrer com as pessoas. Uma parte pequena foi e, em algumas sociedades, ainda é transmitida pela oralidade. Mas, o mais importante da escrita, é que ela possibilitou o acúmulo do conhecimento e sua posterior transmissão às próximas gerações com o uso dos mais diversos suportes para tal difusão. Além disso, ao "liberar" a memória, o intelecto humano pode dedicar-se ao pensamento com a consequente elaboração de novas ideias, donde mais conhecimento etc, etc.



Os mais antigos registros escritos conhecidos foram feitos por volta de 3.100 a.C., ou seja, há mais de cinco mil anos atrás. São as plaquetas de barro cozido encontradas no Templo Branco da cidade de Uruk. Nessas plaquetas os registros feitos pelos Sumérios utilizaram a técnica da escrita cuneiforme (símbolos gráficos em forma de cunha). Também foram utilizadas como suporte de registro peças de marfim, tábuas de madeira e placas de pedra.

Pensando-se em mobilidade, o próximo suporte para a escrita foi o papiro. "Foi por volta de 2500 a.C. que os egípcios desenvolveram a técnica do papiro, um dos mais antigos antepassados do papel. Para confeccionar o papiro, corta-se o miolo esbranquiçado e poroso do talo em finas lâminas. Depois de secas, estas lâminas são mergulhadas em água com vinagre para ali permanecerem seis dias, com o propósito de eliminar o açúcar. Outra vez secas, as lâminas são ajeitadas em fileiras horizontais e verticais, sobrepostas umas às outras. A seqüência do processo exige que as lâminas sejam colocadas entre dois pedaços de tecido de algodão, sendo então mantidas prensadas por seis dias. E é com o peso da prensa que as finas lâminas se misturam homogeneamente para formar o papel amarelado, pronto para ser usado. O papiro pronto era enrolado numa vareta de madeira ou marfim para criar o rolo que seria usado como suporte de escrita." (Paulo Heitlinger) O papiro prevaleceu como principal suporte até o fim do séc. III d.C. Por analogia à cidade fenícia onde compravam o papiro – Byblo –, os Gregos chamavam ao papiro byblo e, ao conjunto de rolos de madeira nos quais eram conservados os papiros escritos, byblias. Finalmente, às casas onde eram guardadas as byblias – bibliotecas. (acima à esquerda, a planta papiro; à direita, ao lado, um papiro escrito).

Por falar em bibliotecas, a famosa Biblioteca de Alexandria, no Egito, tinha como grande rival no acúmulo de conhecimento, a Biblioteca de Pérgamo (localizada na atual Turquia). Como o papiro era o suporte principal para a escrita, o faraó Ptolomeu V (210 - 180 a.C.) proibiu sua exportação para a cidade de Pérgamo, para evitar o crescimento da biblioteca concorrente. Para fazer frente ao problema o Rei Eumenes II de Pérgamo (197 - 158 a.C.) determinou que se encontrasse uma alternativa para a substituição do papiro na confecção dos "livros".

O uso do couro já era utilizado de há muito como suporte para a escrita e, com a necessidade, os sábios de Pérgamo aperfeiçoaram a técnica da sua confecção. Este novo suporte para a escrita passou a ser conhecido como pergaminho, numa referência à cidade onde começou a ser produzido. O pergaminho reutilizado após uma raspagem, denomina-se palimpsesto (palim, novo; psesto, raspado). O auge da utilização do pergaminho ocorreu entre os séculos IV e XIII, quando começou a ser substituído pelo papel, o terceiro principal suporte para a escrita das civilizações. (à direita, ruínas da biblioteca de Pérgamo).

Continua no próximo post com a invenção do papel em 105 d.C. na China.

Fontes:

Paulo Heitlinger - http://tipografos.net/

Cláudia Pires - http://www.revista-temas.com/contacto/NewFiles/Contacto12.html

4 comentários:

Teresa Coutinho disse...

Muito interessante, é sempre bom saber a evolução da tão preciosa escrita e subsecuênte transmissão de conhecimento.

Foi um prazer que adicionei o seu blog aos favoritos, para assim regressar com frequência.

Hermes Machado disse...

O livro. Negligenciado por milhões de brasileiros, marginalizado por grande soma de jovens que aspiram e inspiram os ares da informação digital. Este tema de Paulo Heitlinger e Cláudia Pires outrora me inspirou a publicação do romance intitulado Vitória na XXV, (2007).
O texto ao qual faço referência discorre em três cenários diferentes: A cidade de Santos, a Rua 25 de Março e o Líbano, este, berço da escrita fonética em alfabeto desenvolvida na antiga cidade de Biblos pelos escribas há mais de três mil anos. Quanto tempo precisaremos para incutir nas mentes incautas e vacilantes a necessidade da leitura para aferição de poder contra aqueles que persistem em oferecer-nos pão e circo.
www.romancedenegocios.blogspot.com

Jaime Mendes disse...

Olá Teresa,

fico feliz que tenha gostado do blog. Sinta-se à vontade para participar.

abraço
jaime

Kátia disse...

Sou bibliotecária e quando fiz a graduação (na era pré-digital), estudamos paleografia: fizeste uma síntese da disciplina...
Teu blog tem várias tags em comum com o meu: uma rápida olhada e já identifiquei: Darwin, Freud,biblioteca, Cultura, Billie Holliday, e-book, Poe, direito autoral...vou te adicionar à minha lista.
[]s

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